Eis aqui um filme feito aparentemente sem nenhum carinho, nenhum esmero: “Alegorias” parece acreditar que suas boas intenções, tomadas aéreas de drone e preocupações temáticas são o suficiente para que mereça nossa atenção. É um longa que tem o samba e o carnaval como pontos de partida. Acompanhamos as vidas de empregadas domésticas que encontram fôlego novo na folia. 

É possível, porém, suspeitar que a coisa não vai bem para o lado da produção quando as imagens de uma roda de samba, logo no início da projeção, têm tanta vivacidade quanto as de uma videolaparoscopia. Tudo é flat, lavado; a câmera permanece colada aos rostos dos atores, em uma abordagem mais claustrofóbica do que intimista. 

E isso é antes das falhas bisonhas na montagem e mixagem de som: os diálogos são ora baixos demais, ora estourados, ruídos se sobressaem às falas dos atores, a própria qualidade da captação parece oscilar. A dramatização à la Telecurso 2000 também está longe de ajudar. Mas todas essas deficiências técnicas provavelmente não incomodariam se “Alegorias” propusesse algo de vital, vibrante. 

Por que, no fim das contas, a questão que a obra explicita (sem apontar para uma resposta satisfatória) é: como dar conta daquilo que é a própria expressão da vida? Talvez os realizadores devessem tentar de novo após meditar um pouco sobre a pergunta.