Rhea Seehorn é a revelação de Better Call Saul, uma atriz que se mostrou forte e dona da sua personagem desde sua primeira cena na série, e graças a ela e aos roteiristas e diretores do seriado, a Kim se tornou uma das figuras mais marcantes do universo criado por Vince Gilligan e seus colaboradores. E com este quarto episódio da última temporada do programa, ela estreia na direção de maneira admirável. Se “Hit and Run”, este episódio, não tem a tensão e a força dos seus anteriores, ele compensa trazendo novos desenvolvimentos para os personagens e algumas imagens e momentos marcantes para a história do seriado.

Justiça seja feita, depois do final altamente dramático do episódio anterior, uma queda seria praticamente inevitável, e necessária para rearranjar as narrativas. Mas mesmo assim “Hit and Run” é interessante desde seus minutos iniciais, que envolvem um casal ciclista, uma casa vermelha e uma estranha escolha musical para a cena. O significado deste estranho prólogo só fica claro lá pelo final do episódio, mas a semente da curiosidade já é plantada de forma esquisita e engraçada.

Depois tudo começa de forma divertida para Jimmy e Kim, com o esquema deles para acabar com a carreira do Howard. O esquema envolve a trava do carro dele, como vimos no anterior, a prostituta Wendy e o motel que vimos nas primeiras temporadas de Breaking Bad, e uma das visões mais bizarras da série: Jimmy disfarçado de Howard, com direito a terno azul, peruca e bronzeado alaranjado.

Aliás, tem mais duas referências a Breaking Bad neste episódio: o bandido Spooge, que tem a cabeça esmagada por um caixa eletrônico num momento memorável da segunda temporada da série faz uma aparição como cliente em potencial de Saul, e o local onde funcionará o escritório do advogado criminoso enfim aparece. Só faltou a Estátua da Liberdade inflável. Mas ela virá.

Enfim, a direção de Seehorn ressalta o clima maluco e tenso da armação de Jimmy e Kim, com planos detalhes de um cone, uma mão segurando um celular por baixo de uma mesa; e também por meio do ritmo da montagem: o corte inteligente da nuca de Jimmy para a de Kim deve despertar ao menos um sorriso em quem assistir o episódio.

Depois desse momento inicial, as coisas ficam mais sérias e dramáticas, com Jimmy percebendo que virou quase um pária junto a seus colegas advogados por ter libertado Lalo; e Kim percebendo que está sendo seguida. A cena dela com Mike, a primeira dos personagens em toda a série, é conduzida com maestria e leva ao clima de paranoia do resto do episódio. Afinal, enquanto para Jimmy/Saul tudo está relativamente bem – ele até demonstra uma ponta de satisfação por ter virado “o cara do Salamanca” – Kim e Gus, também, sabem que o perigo os está rondando. Lalo, o monstro, ainda está vivo, e Gus não tem um pingo de dúvida sobre isso.

Sabemos que Gus e Jimmy não vão morrer porque estarão em Breaking Bad. Mas um dos golpes de mestre de Better Call Saul foi nos fazer investir emocionalmente na Kim. Neste momento na série, ela é o maior foco da tensão dramática. Não é à toa que Mike diz a Kim que ela “é feita de material mais duro que o Jimmy”. E “Hit and Run” comprova mais uma vez que, para além da personagem, sua atriz/diretora também é especial.