Antonio Leblanc (Justin Chon) mora em Nova Orleans há 30 anos, é casado, tem uma filha adotiva e a esposa está grávida de mais uma menina. Ainda assim, o sul-coreano corre risco de ser deportado mesmo que tenha sido adotado aos 3 anos de idade por um casal estadunidense, o que o fez crer durante toda uma vida estar legal no país.

“Blue Bayou”, dirigido, roteirizado e estrelado por Justin Chon, busca em toda sua projeção tratar sobre pertencimento, como nos identificamos com um lugar e construímos um lar. Logo no início do filme, Antonio é indagado por um homem a respeito de seu nome, de origem não asiática.

Pouco depois, a filha adotiva pergunta se ele preferirá a companhia da filha biológica quando a mesma nascer. São pequenos momentos dentro da obra que compõem esse quadro sobre pertencimento, sobre se identificar como algo ou alguém; Acertadamente, “Blue Bayou” não transforma em diálogos reflexivos e vazios sobre o tema, sendo tudo introduzido organicamente.

‘SINTONIA DESORGANIZADA’

A fotografia da dupla Ante Cheng e Matthew Chuang tenta sempre unir personagens e paisagens da cidade, os fazendo uma coisa só, mesmo quando vemos apenas suas sombras ou estão em meio a várias pessoas. Há uma “sintonia desorganizada” entre os elementos em quadro até porque não se trata apenas sobre o pertencimento de Antonio, sua esposa e filhas com aquele local, mas também da relação deles próprios enquanto família. E por mais violento que Nova Orleans possa ser para eles, a cumplicidade é que o reflete em tela.

Descendente de vietnamitas que chegou aos EUA como refugiada ainda pequena, Parker (Lin Dan Pham) rouba as atenções em “Blue Bayou”. A identificação dela com Antonio é imediata, embora os dois, apesar da imigração, tenham pouco em comum. Parker possui uma família mais estruturada e conta com uma grande rede de apoio de outros imigrantes, diferente de Antonio que não possui relação com os pais adotivos.

Usando esse contraponto, “Blue Bayou” vai mais a fundo na questão sobre diferenças culturais e dificuldades de um imigrante em um país com fortes desigualdades sociais. As atuações de Alicia Vikander como Kathy, esposa de Antonio e, principalmente, de Sydney Kowalske que interpreta Jessie, filha adotiva do protagonista, contribuem para a riqueza deste cenário.

PASSEIO EM FAMÍLIA

O filme reserva certo destaque para a personagem da atriz mirim, principalmente, no primeiro ato, relembrando um pouco “Projeto Flórida”, ao introduzir as dificuldades de uma família pobre dos Estados Unidos a partir do olhar de uma criança. E é louvável que “Blue Bayou” entenda que, para Jessie, há questões mais sérias como a atenção do pai, o ciúme de uma irmã que ainda nem nasceu mas, para além disso, qualquer tipo de conflito pode se resolver com um passeio em família.

Ao longo de sua projeção, “Blue Bayou” flerta com momentos em que busca uma grandeza desnecessária, tentando fugir do cerne familiar para adentrar às questões socioeconômicas do país com pouca naturalidade e de forma um tanto superficial. Ainda bem que Jessie recupera um pouco de seu protagonismo já na parte final, resgatando a sensação de estarmos em lugar desajustado, mas que com um pouco de sensibilidade pode ficar bem.