Nos últimos anos, algumas duplas de irmãos cineastas se separaram: as Wachowski, os Coen, Christopher e Jonathan Nolan… Bem, por enquanto os Dardenne permanecem juntos, pelo menos.

No momento, ainda não se sabe se essas separações são definitivas. Mas outra dupla de irmãos cineastas que deram um tempo e seguiram seus caminhos, provavelmente para recarregar as baterias criativas, foram os Farrelly. Peter e Bobby fizeram algumas das comédias mais queridas e bem-sucedidas da virada do século como Debi e Lóide (1994), Quem Vai Ficar com Mary? (1998), e O Amor é Cego (2001). Quando se separaram, em anos recentes, Peter fez o oscarizado Green Book: O Guia (2018), um feel good movie – aquele tipo de produção segura e que faz o público se sentir bem – que conquistou a Academia retratando uma história de amizade vencendo o racismo, inspirada em um caso real.

Depois de um tempo sumido, Bobby reaparece com este Campeões. Trata-se de uma refilmagem americana do filme espanhol Campeones (2018) – o qual, confesso, não assisti. No filme, Woody Harrelson interpreta Marcus, um treinador de basquete esquentado que perde o emprego e faz uma burrada, sendo condenado a prestar um serviço comunitário: comandar um grupo de paratletas no esporte. Alguns têm síndrome de Down, outros têm deficiência intelectual. Nosso protagonista, a princípio, pensa que se meteu em uma roubada, mas com o tempo vai se afeiçoando aos seus novos atletas, às suas condições especiais, transformando-os em um time chamado de “Amigos”, capaz de disputar medalha.

ELENCO DE MILHÕES

Não tem nada em Campeões que já não tenhamos visto em dezenas de outros filmes de esporte. O longa mostra a redenção do sujeito arrogante e um pouco preconceituoso – no início, Marcus pergunta à juíza que o sentencia “como vou chamá-los, senão com a palavrinha que começa com ‘r’?”, ao que ela responde “pelos seus nomes”. O que vemos no filme é velha história de superação de preconceitos, algo que felizmente a obra consegue encontrar a partir da humanidade dos personagens, especialmente no elenco dos paratletas, para torná-los um pouco mais do que meras caricaturas.

Mas esse é um mérito mais do elenco carismático do que do roteiro propriamente dito. O que faz Campeões funcionar é Harrelson com seu charme capaz de nos fazer gostar do personagem falho que aos poucos se redime, e seu elenco de apoio. Kaitlin Olson faz o interesse romântico, que também cresce em “Campeões” mais por mérito da atriz, e os Amigos são um grupo divertido de se acompanhar, especialmente Madison Tevlin como a garota do time, e Kevin Iannucci. De novo, nenhum personagem ou conflito é lá muito aprofundado, mas os personagens funcionam a mantém o interesse do espectador.

Se você assistiu alguns filmes de superação na vida, consegue adivinhar tudo que vai acontecer em Campeões. E em alguns momentos o tom de superação, com a mão pesada e um pouco piegas do diretor, quase atrapalha a experiência – a obrigatória cena do discurso motivacional do treinador aos seus jogadores não funciona aqui, pela superficialidade do texto, e prova que nem Harrelson consegue fazer milagre.

Ainda assim, Campeões tem uma honestidade e uma simpatia que não parecem fingidas. É melhor assistí-lo do que à grande maioria dos discursos de coachs de internet por aí… E em termos de feel good movie, ele parece um bocadinho mais honesto e menos manipulativo que Green Book. Peter pode ter visto seu filme ganhar o Oscar, mas o de Bobby é um pouco melhor.