Dirigido por Jessica Hausner, “Club Zero” se passa em uma escola de elite que recebe uma nova professora de nutrição. Ela ensina a um pequeno grupo de adolescentes um novo método de alimentação que promete melhorar não só o desempenho nos estudos e nos esportes dos alunos, mas também salvar o mundo. Uma proposta promissora, mas que promete muito mais do que consegue executar de fato. “Club Zero” acaba sendo um filme com zero personalidade e desenvolvimento. 

Pior de tudo é Hausner faz de tudo para dar a “Club Zero” uma aparência moderna, nítido desde a arquitetura brutalista da escola até os uniformes coloridos e as casas dos pais. Vemos essa modernidade também nas escolhas de filmagem da diretora: zooms rápidos e pouco convencionais, enquadramentos diferenciados e outras opções visuais que dão ao filme uma aparência diferente ou, pelo menos, indicam uma tentativa de inovar. 

Miss Novak (Mia Wasikowska) é a líder desse “culto”, uma personagem peculiar que consegue ser carismática e manipuladora em todas as suas falas, assim como um líder de culto deve ser. No entanto, o roteiro falha em dar o destaque necessário à personagem, que deveria ser essa figura que assombra os alunos a todo momento. Na verdade, é difícil entender suas motivações reais, tornando-se complicado até mesmo compreender suas intenções. 

MONOTONIA E TÉDIO

Os adolescentes, que deveriam ser os verdadeiros protagonistas do filme têm talento, carecem de desenvolvimento. A turma da Miss Novak começa com sete alunos, todos com motivos diferentes para participar das aulas, sendo que “Club Zero” foca em quatro jovens que são os mais afetados pela aula. Temos Ben (Samuel D Anderson), um estudante bolsista que está tentando melhorar suas notas para manter sua bolsa de estudos, e que é o mais resistente ao “comer consciente” do que os outros alunos. Ragna (Florence Baker) participa do curso para melhorar seu desempenho no atletismo. Elsa (Ksenia Devriendt) é uma aluna popular que luta contra a bulimia. E Fred (Luke Barker), colega de quarto de Ben, é um solitário bailarino com diabetes. 

O relacionamento entre esses alunos, seus pais e a Miss Novak parece ser o verdadeiro foco do filme. Com exceção de Ben, todos os alunos vêm de famílias ricas e se sentem incompreendidos pelos pais. Eles encontram nas aulas da Miss Novak uma espécie de refúgio, um lugar onde acreditam que podem encontrar respostas para seus problemas, mudar o mundo e ter alguém que realmente os entende. Essa busca por respostas os faz aderir ao extremismo do “comer consciente”, que gradualmente parece trazer resultados positivos na vida dos jovens, mas começa a piorar ainda mais a relação deles com suas famílias. 

No entanto, o desenvolvimento dessas relações no filme é decepcionante. Tudo acontece de forma muito rápida e superficial, tornando difícil sentir empatia pelos personagens. “Club Zero” se apressa e repete cenas semelhantes dos alunos comendo pouco ou fingindo comer, sem explorar mais profundamente quem eles são como indivíduos. Há várias oportunidades para explorar os dilemas e os conflitos desses adolescentes, mas elas não são devidamente aproveitadas. Situações que poderiam fornecer mais contexto e entendimento sobre seus relacionamentos, seus desafios e até mesmo as consequências do “comer consciente” não são desenvolvidos. Muitas portas são abertas, resultando em uma narrativa que parece incompleta e sem profundidade. 

Resumindo: nada em “Club Zero” dá certo. O resultado é uma narrativa monótona e entediante.