É difícil escrever sobre um filme como Meu Passado Me Condena 2. Não porque o longa ofereça uma série de elementos de peso a serem (re)interpretados por quem se propõe a analisá-lo, mas sim porque, do começo ao fim, tem-se a eterna impressão de que tudo aquilo já foi visto antes – e às vezes até melhor. Então, se o filme é simplesmente o suprassumo do mais do mesmo, como fazer para que o texto também não seja mais do mesmo? Como superar a preguiça de ter que se repetir?

São divagações à parte, mas que inevitavelmente me vêm à mente quando me deparo com um filme como Meu Passado Me Condena 2. Novamente, o casal vivido por Fábio Porchat e Miá Mello embarca numa trajetória de idas e vindas típica dos dois. Três anos depois do casamento do primeiro filme, a dupla está em crise, e Miá quer se separar – mas calha que a avó de Fábio morre em Portugal, e ele providencia a viagem para o funeral vendo nela também uma oportunidade de reconquistar a esposa.

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Óbvio que nada sai como o planejado. Primeiro, porque o filme bate na mesma tecla das duas personalidades totalmente opostas de Fábio e Miá o tempo todo, o que nos leva constantemente até mesmo a nos perguntar de por que diabos os dois ainda estão juntos. Fábio é o crianção imaturo que esquece de pagar a conta de luz; já Miá é a mulher mandona e mal-humorada que faz uma lista de exigências do que deve ser mudado. Como se não bastasse, o personagem dele ainda se revela um mau-caráter de primeira no decorrer do filme. Como simpatizar e torcer por personagens fracos que nada mais são que os arquétipos mais fracos das comédias românticas?

A fórmula desgastada ainda envolve outros dois personagens, o machista Álvaro (Ricardo Oliveira) e a doce Ritinha (Mafalda Rodiles), para construir um triângulo (ou quadrado) amoroso que balance a relação já em crise. Nada de novo no front, a não ser a discussão sobre igualdade de gêneros que aqui respinga no roteiro a partir da presença, principalmente, de Álvaro e seu embate com a independência de Miá e vontade de Ritinha de se libertar. Pena que o discurso, que já estava no nível da superficialidade, perca mais força ainda com o próprio conduzir machista do longa, que reduz Miá e Ritinha a suas decisões baseadas em homens.

Além da dose de clichês da comédia romântica que atingem fortemente Meu Passado Me Condena 2, seu outro maior problema é buscar a piada na base do grito: Fábio Porchat aqui desperdiça seu talento como um sub-Leandro Hassum, como se gritar suas falas fosse o suficiente pra deixá-las engraçadas. E haja grito. Já Miá, apesar de seu carisma – que lhe vem a calhar na dublagem de Divertida Mente, por exemplo –, nada pode fazer sendo relegada ao papel da chata.

Coroa-se então toda essa fórmula descrita até aqui com um dos clichês mais manjados no final, com Fábio correndo atrás de Miá em um aeropor- não, quase, é numa estação de trem. Pra todos os efeitos, dá no mesmo.

Esse é o segredo de Meu Passado Me Condena 2 para se tornar campeão de bilheteria: apostar na estrutura de uma novela (ruim, vale ressaltar, já que o gênero produz sim bons exemplares) saída diretamente da linha de produção da Globo Filmes com poucas diferenças dos outros produtos da fábrica. Não à toa seu fiapo de história é conduzido numa mise-en-scène que mais lembra uma série de esquetes coladas umas nas outras.

Há sim, deve-se dizer, seus pontos positivos: o trabalho correto de fotografia de Dante Belutti extrai de locações como a Quinta de Sant’Ana e um pequeno vilarejo chamado Sortelha tanto a beleza de Portugal quanto a sensação de um lugar parado no tempo, em que quase nada acontece. Já o alívio cômico do casal vivido por Inez Viana e Marcelo Valle, por sua vez, garante as poucas risadas do filme ao abraçar o mau-caratismo sem reservas.

Mas a verdade é que tudo isso é pouco para sustentar o filme. O resultado é só esquecível – e se o tom do texto parece irritado ao listar uma série de clichês, é porque a sensação de tentar extrair algo a mais de um longa como esse – e não conseguir – é frustrante. Pode parecer má vontade prévia, mas quisera eu dar umas boas risadas com Meu Passado Me Condena 2. Na verdade, semana que vem nem vou lembrar mais dele (e mesmo quem viu e gostou provavelmente vai esquecer assim que o próximo da linha de produção entrar em cartaz).