Seguindo a tendência hollywoodiana de bombardear os cinemas com reboots e remakes de filmes amados pelo público, ‘Convenção das Bruxas’ foi concebido pelo oscarizado Robert Zemeckis (‘Forrest Gump’) como um reboot do filme de Nicolas Roeg, lançado há 30 anos. Sem grandes mudanças na história ou forma de conduzir a narrativa, o novo longa se distancia do anterior por seu visual mais elaborado e devido aos nomes de Octavia Spencer e Anne Hathaway em seu elenco. Entretanto, nem todas novidades foram boas para a narrativa, exemplo disto é a atualização dos efeitos visuais que se tornaram bem menos críveis em comparados ao filme original, restando somente uma obra com boas qualidades, mas totalmente desnecessária por reproduzir algo já feito anteriormente.

Tanto o filme de 1990 quanto o reboot são baseados no livro homônimo de Roald Dahl, o que resulta em narrativas escritas de forma muito semelhante, com cenas praticamente idênticas. Basicamente, a trama acompanha um menino de oito anos (Jahzir Bruno) que passa a morar com sua avó (Octavia Spencer) após a morte de seus pais. Ao se hospedarem em um hotel luxuoso, ambos se deparam com uma reunião de bruxas lideradas pela grande bruxa (Anne Hathaway), a qual possui o plano de transformar crianças em ratos.

Sem grandes alterações na forma de conduzir a história, a grande mudança realizada por Zemeckis é atualizar o longa para o público atual inserindo maior representatividade. Desta vez, o jovem protagonista e sua avó são negros, o que é utilizado para ressaltar pequenas críticas ao racismo quando suas histórias de vida são contadas. Apesar da iniciativa ser louvável, ela é bem tímida e percebida somente por um público mais atento.

Ainda nos aspectos positivos, o design de produção se destaca pelo ótimo aproveitamento dos figurinos e do hotel como cenário. Da mesma forma, as interações entre Anne Hathaway e Octavia Spencer são muito boas e conseguem manter a história interessante. Além de ambas serem grandes atrizes, elas realmente parecem aproveitar seus papéis ao máximo. Anne possui um bom suporte dos efeitos visuais e entrega uma vilã com traços de humor, sem perder o objetivo de dar medo. Já Octavia Spencer também passa a impressão de estar se divertindo e confortável com o personagem, mas, diferente de Anne, os efeitos visuais nas cenas de Octavia são bem precários. Tanto os feitiços da bruxa quanto os ratos passam a impressão de tela verde sendo posta em prática, deixando a história menos fantasiosa e imersiva – isso sem nem comparar com os ótimos efeitos práticos com longa original.

Entre reboots e remakes

Para qualquer um que acompanha regularmente a indústria cinematográfica, a excessiva realização de remakes não é nenhuma novidade. O estúdio Disney, por exemplo, é um dos maiores defensores das readaptações e mostra na prática que o longa não precisa ter uma grande aprovação da crítica ou público para lucrar nas bilheterias como ‘O Rei Leão’ (2019) fez. Assim como a produção da Disney, ‘Convenção das Bruxas’ é um filme bem feito e possui grandes nomes envolvidos como Guillermo del Toro e Alfonso Cuarón na produção, mas, não deixa de ser apenas uma cópia do anterior com efeitos atualizados.

A Warner Bros., produtora do reboot, já possui um histórico de readaptações desde 2005 com o sucesso de ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’ até o recente ‘It – A Coisa’ (2017), onde atuou como distribuidora. ‘Convenção das Bruxas’ é somente mais uma produção desta nova fase no cinema, como seus próximos lançamentos: ‘Duna’, ‘Godzilla vs Kong’, ‘Tom & Jerry’ e ‘Space Jam – O Novo Legado’, sendo estes últimos dois longas voltados para o público infantil, o grande alvo das adaptações de histórias antigas com uma visualidade correspondente ao padrão de efeitos visuais que estão acostumados.

Assim como seus companheiros deste movimento de remakes, ‘Convenção das Bruxas’ não é um filme necessário, muito menos possui uma história que tenha obrigatoriedade de ser revisitada – apesar do protagonismo de personagens negros ser muito bem-vindo e bem inserido, diga-se de passagem. Em linhas gerais, o filme apenas refina o visual com elementos cênicos mais atrativos e adapta os efeitos práticos para uma tecnologia teoricamente superior, mas, que não consegue fazer o longa anterior ser esquecido, servindo mais como uma sessão despretensiosa que desperdiça um bom diretor e elenco. 

CRÍTICA | ‘Deadpool & Wolverine’: filme careta fingindo ser ousado

Assistir “Deadpool & Wolverine” me fez lembrar da minha bisavó. Convivi com Dona Leontina, nascida no início do século XX antes mesmo do naufrágio do Titanic, até os meus 12, 13 anos. Minha brincadeira preferida com ela era soltar um sonoro palavrão do nada....

CRÍTICA | ‘O Sequestro do Papa’: monotonia domina história chocante da Igreja Católica

Marco Bellochio sempre foi um diretor de uma nota só. Isso não é necessariamente um problema, como Tom Jobim já nos ensinou. Pegue “O Monstro na Primeira Página”, de 1972, por exemplo: acusar o diretor de ser maniqueísta no seu modo de condenar as táticas...

CRÍTICA | ‘A Filha do Pescador’: a dura travessia pela reconexão dos afetos

Quanto vale o preço de um perdão, aceitação e redescoberta? Para Edgar De Luque Jácome bastam apenas 80 minutos. Estreando na direção, o colombiano submerge na relação entre pai e filha, preconceitos e destemperança em “A Filha do Pescador”. Totalmente ilhado no seu...

CRÍTICA | ‘Tudo em Família’: é ruim, mas, é bom

Adoro esse ofício de “crítico”, coloco em aspas porque me parece algo muito pomposo, quase elitista e não gosto de estar nesta posição. Encaro como um trabalho prazeroso, apesar das bombas que somos obrigados a ver e tentar elaborar algo que se aproveite. Em alguns...

CRÍTICA | ‘Megalópolis’: no cinema de Coppola, o fim é apenas um detalhe

Se ser artista é contrariar o tempo, quem melhor para falar sobre isso do que Francis Ford Coppola? É tentador não jogar a palavra “megalomaníaco” em um texto sobre "Megalópolis". Sim, é uma aliteração irresistível, mas que não arranha nem a superfície da reflexão de...

CRÍTICA | ‘Twisters’: senso de perigo cresce em sequência superior ao original

Quando, logo na primeira cena, um tornado começa a matar, um a um, a equipe de adolescentes metidos a cientistas comandada por Kate (Daisy Edgar-Jones) como um vilão de filme slasher, fica claro que estamos diante de algo diferente do “Twister” de 1996. Leia-se: um...

CRÍTICA | ‘In a Violent Nature’: tentativa (quase) boa de desconstrução do Slasher

O slasher é um dos subgêneros mais fáceis de se identificar dentro do cinema de terror. Caracterizado por um assassino geralmente mascarado que persegue e mata suas vítimas, frequentemente adolescentes ou jovens adultos, esses filmes seguem uma fórmula bem definida....

CRÍTICA | ‘MaXXXine’: mais estilo que substância

A atriz Mia Goth e o diretor Ti West estabeleceram uma daquelas parcerias especiais e incríveis do cinema quando fizeram X: A Marca da Morte (2021): o que era para ser um terror despretensioso que homenagearia o cinema slasher e também o seu primo mal visto, o pornô,...

CRÍTICA | ‘Salão de baile’: documentário enciclopédico sobre Ballroom transcende padrão pelo conteúdo

Documentários tradicionais e que se fazem de entrevistas alternadas com imagens de arquivo ou de preenchimento sobre o tema normalmente resultam em experiências repetitivas, monótonas e desinteressantes. Mas como a regra principal do cinema é: não tem regra. Salão de...

CRÍTICA | ‘Geração Ciborgue’ e a desconexão social de uma geração

Kai cria um implante externo na têmpora que permite, por vibrações e por uma conexão a sensores de órbita, “ouvir” cada raio cósmico e tempestade solar que atinge o planeta Terra. Ao seu lado, outros tem aparatos similares que permitem a conversão de cor em som. De...