Com a narração da tenista norte-americana Serena Williams, “Copa 71: A História que não foi Contada” apresenta cronologicamente a história da primeira grande competição mundial de futebol feminino, realizada no México. Embora não tenha sido o pioneiro, o torneio foi o primeiro a acontecer em grandes estádios com enorme comoção do público e da imprensa. Parecia ser a primeira vez que o futebol feminino era equiparado ao masculino, representando para muitas jogadoras a esperança de um futuro melhor para o esporte. 

O evento foi marcado principalmente pela desaprovação da FIFA, que não reconhecia o futebol feminino e desejava boicotar o esporte e os países que o apoiavam. No entanto, o evento não surgiu como um ato de resistência ou representatividade, mas sim como uma grande jogada de marketing para vender ingressos e lucrar com um esporte que, muitas vezes, era visto como piada ou explorado pela sexualização das jogadoras. 

Os relatos e a vida das jogadoras que participaram do evento são os pontos-chaves de “Copa 71: A História que não foi Contada”. Elas compartilham tudo o que viveram, como se sentiam e ainda se sentem apagadas da história do esporte e de seus países. Falam sobre suas vidas antes do evento e como ficaram depois dele, afinal, o torneio acabou sendo onde elas precisavam provar que eram atletas de verdade e que podiam crescer no esporte. 

QUASE UMA MATÉRIA ESPECIAL TELEVISIVA

Mas o que é o filme “Copa 71”? Basicamente, são cerca de 90 minutos de entrevistas e imagens de apoio dos jogos. É difícil até chamá-lo de filme, pois há zero interesse em explorar o tema principal de forma profunda. Trata-se mais de uma espécie de homenagem ou exposição superficial, sem se aprofundar nas questões relevantes. Faltam contextualização histórica, mais das vidas das jogadoras e uma mínima análise crítica da importância e impacto dessa competição no futebol feminino e na sociedade. O resultado é uma narrativa que não faz jus à grandeza do evento que retrata. 

Mas isso vem muito da crença popular de que o documentário é uma extensão do jornalismo. Os documentários que ficaram famosos, feitos pela televisão, principalmente pelos canais de televisão a cabo, apresentavam quase sempre esse formato: entrevistas cortadas, um take com a claquete batendo na frente do entrevistado para mostrar que é um filme, imagens de apoio que podem ser de arquivo ou modificadas para parecerem de arquivo (o que acontece em muitas cenas de “Copa 71: A história que não foi contada”), alguma narração, que pode ser feita por um narrador ou pelos próprios entrevistados. E é isso. 

Quando paramos para analisar, é um filme que nem precisa de diretor; a própria produção pode organizar tudo isso e mandar para a edição. Mas “Copa 71: A história que não foi contada” não tem apenas um, mas dois diretores – Rachel Ramsay e por James Erskine -, e mesmo assim não conseguiram fazer o mínimo para um bom documentário. Apenas juntaram relatos e algumas imagens, sem qualquer esforço para ir além disso. É o típico jornalismo de televisão enrolando por duas horas. Se o Brasil estivesse na competição, poderíamos ter uma matéria especial menor e talvez até melhor no Esporte Espetacular ou no Fantástico, montada quase do mesmo jeito. 

Na verdade, é bem triste ver que os relatos das jogadoras foram jogados no filme e tratados quase como nada no final. Eles foram apenas mais um elemento da narrativa, pouco valorizados pelo roteiro, e muitas vezes não receberam a seriedade e a importância que mereciam. Isso é decepcionante de se ver em um documentário que deveria no mínimo destacar e honrar suas histórias. 

É interessante observar que, em 2023, pelo menos outros dois documentários abordaram o mesmo assunto: o mexicano “Tan Cerca de las Nubes” e o argentino “México 71”. No entanto, a produção britânica acabou ganhando mais destaque do que as latinas. Esses documentários têm uma visão diferente do evento, focando principalmente nas jogadoras de suas respectivas seleções e contando histórias de forma mais detalhada e íntima.