Equilibrando um humor cáustico que vai dando lugar a um potente drama moral, “Blaga’s Lessons” se mostra como a resposta da Bulgária à série “Breaking Bad”. Segundo filme do país a vencer o Globo de Cristal – maior prêmio do Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary, onde estreou – o longa é uma análise de uma sociedade em colapso que não apela para o sentimentalismo.

Nele, o público é introduzido a Blaga (Eli Skorcheva), uma professora aposentada que ganha uma renda extra com lições privadas de búlgaro. Quando ela vira vítima de um golpe telefônico que a rouba de todas as suas economias, sua pacata vida sai do eixo. Com portas fechadas para o mercado de trabalho por conta da idade, ela acaba apelando para meios escusos para dar a volta por cima.

Filmes cujos protagonistas tomam uma série de más (ou, ao menos, questionáveis) decisões não são novidade no cinema, e é um triunfo do filme do cineasta Stephan Komandarev fazer com que Blaga seja tão humanamente relacionável que o espectador a acompanha – e a apoia – nas suas falhas. Com o prazo para pagar o túmulo do marido servindo como elemento de pressão, as medidas desesperadas de Blaga vão transformando o longa em um suspense.

Essa é uma mulher que preza pelas tradições, pelas belas artes, pela boa gramática, pelas coisas feitas corretamente. Seu dinheiro serve, metaforicamente, como as fundações de sua forte moral. Quando ele lhe é roubado, o roteiro escrito por Komandarev e Simeon Ventsislavov fica encarregado de mostrar como as circunstâncias acabam levando-a a sacrificar seu caráter.

É impressionante a quantidade de temas costurados nas amarras do longa, que, apesar disso, jamais se mostra didático. O preconceito de idade é particularmente explícito, com dedos claramente apontados para a falha da sociedade em proteger seus anciões. Privados de uma aposentadoria digna e rechaçados quando se veem trabalhando por necessidade, os idosos da produção parecem estar a dois ou três passos de tomar atitudes similares às de Blaga. 

TRAGÉDIA MODERNA 

 
A produção transforma essa questão em algo ainda mais abrangente: a dúvida sobre o valor da Bulgária. Blaga ensina búlgaro e sua cidade está à sombra de um grande monumento homenageando os fundadores da pátria. Porém, na dureza de sua vida, não há orgulho. A subtrama de sua única aluna particular, vinda do Oriente Médio e que está lutando para aprender a língua para se tornar cidadã do país, provém outro ponto de vista para um argumento já complexo.

O roteiro ganha ainda mais força com a colaboração de Skorcheva, que saiu de uma aposentadoria de 31 anos para dar vida à professora e justamente venceu o Prêmio de Melhor Atriz em Karlovy Vary por seu trabalho aqui.

Os olhos – intensos e desafiadores – de Skorcheva como Blaga são os fios condutores do filme e a imagem que ficará com o público um bom tempo depois dos créditos. “Blaga’s Lessons” é uma tragédia moderna que não é filmada como tragédia – mas como um noir no qual não há saídas.