Há algum tempo não chorava com a Pixar, desde “Toy Story 3”, para ser mais exato. E há muito tempo não via um roteiro tão brilhante vindo do estúdio que encheu os olhos do mundo com obras que, muito mais do que um apelo visual extraordinário, tinham roteiros brilhantes, sendo o verdadeiro coração dos filmes, ao apresentar com criatividade e sensibilidade os seus personagens multidimensionais. E aqui essa perspectiva volta a ficar gigantesca, neste filme que apresenta uma lógica extremamente ambiciosa, mas simples (portanto brilhante) ao mesmo tempo.

“Divertida Mente” (desastrosa tradução do título original “Inside Out”) é mais uma prova de que a arte pensada para o público infantil não precisa ser inofensiva, afinal de contas as crianças têm capacidade para conhecer elementos fora do cor-de-rosa, porque são seres complexos, que reconhecem diversos sentimentos pois os têm dentro de si. E a maior beleza apresentada pela direção fantástica de Pete Docter é a de que somos o que somos pelo equilíbrio dos nossos sentimentos, e que é besteira tentar se cercar apenas das coisas boas, pois o que não é feliz também faz parte do que somos, e não há razão para temer isso, e as personagens principais Alegria e Tristeza são provas de que até os nossos sentimentos são multidimensionais, e precisam um do outro.

E além de ter toda essa complexidade trazida pelo roteiro, o filme ainda possui um design de produção inventivo e eficiente, especialmente quando apresenta o mundo da imaginação, o dos sonhos, e o mundo abstrato, uma ideia absolutamente fantástica, que certamente será um momento que se tornará referência.

É prematuro dizer que a Pixar voltou à sua grande forma, mas é seguro afirmar que “Divertida Mente” está entre os seus títulos mais ambiciosos e emocionantes, o que definitivamente não é pouco.