Fazia quase 10 anos desde a última vez que eu, acompanhado de uns 30 amigos (não é exagero), reencontrava Sidney, Dewey e Gale, na estreia de ‘Pânico 4’ nos cinemas. Era o primeiro filme da então quadrilogia de terror, dirigida pelo saudoso Wes Craven, que assistia sem precisar estar acompanhado da minha mãe – por isso, a chantagem com os colegas. Foi, realmente, um momento especial para mim.

A quarta parte da franquia chegou com a promessa de dar início a uma nova trilogia, porém, em razão dos números decepcionantes nas bilheterias, o longa (muito bom, por sinal) acabou deixando um gostinho amargo na boca dos fãs. Quatro anos após o seu lançamento, Craven faleceu, vítima de câncer no cérebro. Com ele, morreu também qualquer esperança de presenciarmos um retorno de Ghostface às telonas.

Dito isso, ironicamente dez anos depois, é quase surreal que eu esteja escrevendo esse texto para, sim, falar sobre um novo filme da franquia, intitulado apenas ‘Pânico’ – pegando carona na sacada de sucesso utilizada com o penúltimo ‘Halloween’, de 2018. Nem continuação, nem remake, nem reboot, mas um ‘relançamento’ da série de terror, comandado pela dupla de diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (‘Casamento Sangrento’) e que está em cartaz nos cinemas brasileiros.

Mais uma vez, Neve Campbell, David Arquette e Courteney Cox retornam como Sidney Prescott, Dewey Riley e Gale Weathers, porém, diferentemente dos demais longas, eles não são o ponto focal da trama. Mas não precisa ficar triste, apesar do tempo de tela reduzido, arrisco dizer que é a melhor utilização do trio desde ‘Pânico 2’. Eles seguem importantes para o desenrolar da história e, para os fãs da franquia, assisti-los novamente será uma jornada bastante emocionante, e emotiva.

A HISTÓRIA

Agora, o alvo de Ghostface é a jovem Sam Carpenter (Melissa Barrera), que retorna à cidade de Woodsboro acompanhada do namorado, Richie (Jack Quaid), após sua irmã mais nova, Tara (Jenna Ortega), ser brutalmente atacada. Sam não é a típica final girl que esperamos e, logo de início, descobrimos que lida com questões psicológicas, além de possuir uma curiosa conexão com o primeiro filme.

Em Woodsboro, conhecemos um novo grupo de possíveis vítimas e suspeitos: os gêmeos Chad e Mindy (Mason Gooding e Jasmin Savoy Brown), parentes de um personagem bastante popular do universo ‘Pânico’; o nerd bonzinho Wes (Dylan Minnette), filho da agora xerife Judy Hicks (Marley Shelton); a desconfiada Amber (Mikey Madison); e a misteriosa Liv (Sonia Ammar), namorada de Chad.

Na medida em que Ghostface avança em seus ataques, o trio original é introduzido à trama, onde desempenha, resumidamente, o papel de auxiliar Sam e cia a descobrir quem está por trás da máscara.

NOVOS CAMINHOS COM NOVOS ROSTOS

O novo ‘Pânico’ possui vários acertos e um deles, sem dúvida, é o elenco e seus personagens. É importante lembrar que, para que o público se afeiçoe às novas vítimas em potencial, Sidney, Dewey e Gale devem deixar os holofotes. Se o trio tivesse o mesmo tempo de tela que nos demais filmes, seria complicado para os diretores e roteiristas construírem personagens tão bons e complexos quanto os originais.

Barrera e Ortega estão fantásticas como as irmãs Carpenter, assim como Quaid e Savoy Brown. Esta, por sinal, é responsável por um dos melhores monólogos da franquia e que, com certeza, tocará a alma e o coração de todo e qualquer fã de ‘Pânico’. Era como se ela estivesse falando comigo.

A decisão de criar uma protagonista que se distancia de Sidney também me parece acertada. A personagem de Campbell é insubstituível e seria muito estranho a equipe criativa por trás do filme tentar replicá-la na pele de outra atriz. As final girls contemporâneas mudaram e o novo capítulo de ‘Pânico’ acompanhou essa evolução, mas Barrera não só dá conta do recado como também entrega, no terceiro ato, uma sequência de tirar o fôlego – você, que já assistiu ao longa, sabe qual é.

O MELHOR DESDE 1996

A metalinguagem está mais presente que nunca e renderá muitas discussões entre os fãs do gênero, principalmente após a revelação da identidade e do motivo do(s) assassino(s). É assustador e, ao mesmo tempo em que se aplica a outros segmentos da cultura pop, bastante atual.

No geral, ‘Pânico’ é uma carta de amor aos fãs da franquia, repleto de easter eggs, e uma bela homenagem ao trabalho de Craven. É visceral e gráfico, na mesma medida em que é divertido. O melhor desde o original.

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