Todos nós gostamos do Wagner Moura (e seu novo bigode); todos nós gostamos de Kirsten Dunst; e todos nós adoraríamos testemunhar a derrocada dos EUA. Por que então “Guerra Civil” é um saco? 

A culpa, claro, é do diretor. Agora, é importante esclarecer que Alex Garland (“Ex-Machina”, “Aniquilação”) é um bom artífice de matança. O pipoco fura os tímpanos nas cenas de ação e a carnificina deixa qualquer fã de sangue em polvorosa. Palmas, portanto, para a equipe de som, e palmas para o pessoal da arte: é bacana o modo como “Guerra Civil” constrói uma sociedade que ainda não acabou, mas está chegando lá. 

O mundo de Garland é a um só tempo estranho e familiar com carros de passeio dividindo espaço com tanques de guerra nos centros urbanos. Toda essa parafernália militar transposta para o cenário das grandes cidades deve ter custado uma nota, o que justifica os ares de grande produção no mundo indie. 

O problema é que Garland não parece se contentar com esses simples prazeres. Não: esse é um homem com algo a dizer. O que exatamente? Nem Garland sabe. 

NADA A SER VISTO

Daí que passamos o filme acompanhando uma corja de urubus travestidos de jornalistas – liderados por nosso querido Waguinho, além de Dunst. Com uma guerra civil (duh) rolando entre as Forças Ocidentais do Texas e Califórnia e o resto do país, o grupo tem uma missão: chegar à capital, onde o presidente da nação encontra-se cercado pelas tropas rebeldes. O que exatamente explica o conflito? 

Não se preocupe com isso: Garland não consegue bolar nenhuma resposta satisfatória e, no meio do caminho, parece desistir de tentar. Também não se preocupe em descobrir algo significativo sobre os personagens: eles alternam entre o vício psicótico na adrenalina da zona de guerra e a histeria do estresse pós-traumático sem maiores sutilezas. 

De modo que Garland parece estar mirando em dois alvos: no cinismo parasitário da mídia, ocupada em obter as imagens mais chocantes a qualquer custo e num certo imaginário recente de divisão política. Se há alguma proeza no trabalho de Garland, está aí: ele não consegue conjurar uma grama de imagem significativa sobre qualquer um desses temas. 

O que, novamente, sequer seria problema se o filme se entregasse às suas fantasias vis e à violência bombástica. Mas “Guerra Civil” é um lembrete de que mesmo a tela gigantesca do IMAX não serve para muito quando não há nada a ser visto.