Atire a primeira pedra quem não tem uma comédia romântica favorita para chamar de sua. Gênero clássico desde sempre que teve o seu apogeu avassalador entre os anos de 1980, 1990 e 2000, revelando e consolidando nomes como Molly Ringwald, Matthew Broderick, Meg Ryan Geena Davis, George Clooney, Anne Hathaway, Cameron Diaz, Matthew McConaughey, Ryan Reynolds, Reese Wintherspoon, Jennifer Aniston, Drew Barrymore, Sandra Bullock e Julia Roberts, entre outros. Estas duas últimas consideradas, com toda razão e méritos, as rainhas das comédias açucaradas.

Infelizmente o gênero saturou com o passar dos anos, não tem arrastado multidões aos cinemas e com a chegada dos streamings, também não estão entre as grandes audiências do público. E fica a questão: o público ficou mais chato e amargo? As comédias românticas deixaram de ser boas e atraentes? É culpa dos filmes de super heróis e blockbusters? Ou todas as respostas anteriores?

Para além da complexidade dessa questão, de vez em quando acontecem uns encontros interessantes que deixam aqueles fãs de carteirinha das comédias românticas mais esperançosos. É o caso de “Ingresso Para o Paraíso”, novo filme de OI Parker (“Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo!”) que conta com duas grandes estrelas: Julia Roberts e George Clooney em estado de graça.

A produção não é nada mais que um aglomerado de clichês: um ex-casal (Roberts e Clooney) que se odeia, bem-sucedidos, se comporta como duas crianças quando estão juntos. A única coisa que os une é a filha, Lily (Kaitlyn Dever). A jovem, aliás, parece ser mais madura que os pais. Depois de se formar em Direito, ela e sua amiga Wren (Billie Lourd) resolvem viajar para Bali e, entre os encantos que a ilha propõe, Lily se encanta com o jovem empresário local Gede (Maxime Bouttier). Pouco mais de um mês, eles resolvem se casar. A notícia cai como uma bomba na vida desses pais que devem colocar as diferenças de lado e sabotar esse casamento. Mas não será uma tarefa fácil, afinal, os dois bicudos de meia idade não se suportam.

SEM INVENTAR A RODA

Não tem como fazer um paralelo entre “Ingresso para o Paraíso” e “Mamma Mia 2”, pois Parker usa e abusa dos mesmos artifícios fáceis para atrair publico: nomes de peso, história batida (quem não se lembra da Julia tentando sabotar um casamento em duas ocasiões anteriores – “O Casamento do Meu Melhor Amigo” e “Noiva em Fuga”?), locações paradisíacas (a Ilha de Bali, na verdade, foi gravada em Queensland, na Austrália) e a comédia física para arrancar algumas risadinhas e, principalmente, a visão estereotipada e ocidental de um povo local como algo exótico, excêntrico para causar risos de seu comportamento, língua e tradições diferentes deles. Esse é um fato que mais incomoda na película.

Porém, o grande triunfo do filme são eles: Roberts e Clooney. Dois artistas e amigos de longa data A-list que tem star quality e que exalam química. Até quando não estão juntos em cena um complementa o outro. A diversão deles transparece em tela e se confirma nos créditos com os erros de gravação. A cena deles tomando um porre e, no dia seguinte, quando acordam juntos é impagável. Dois astros que não precisam provar mais nada e estão ali para se divertir e divertir quem está assistindo e isso é louvável.

Louvável também perceber que Julia Roberts, a mocinha que protagonizou centenas de comédias, já não é uma mocinha, mas uma bela senhora que agora faz a mãe da mocinha. Isso, entretanto, não a impede de levar “Ingresso Para o Paraíso” nas costas, coisa que as duas jovens em tela tem que comer muito arroz com feijão, embora corra nas veias de Billie Lourd os genes de dois grandes ícones do cinema, Debbie Reynolds e Carrie Fisher (avó e mãe, respectivamente), nossa eterna Princesa Leia.

“Ingresso Para o Paraíso” não foge da fórmula do básico de um filme do gênero, percebam que onde tem muito ódio envolvido existe um grande amor escondido, um lugar para encher os olhos, estrelas de peso para suprir a ausência de uma complexidade do roteiro (também assinado por Parker), mas que arranca risadas e deixa um certo sorriso no rosto, pois as comédias românticas são aquilo, a fantasia do amor ideal/romântico com boas doses de armadilhas até se enxergar o óbvio.