“A Grande Onda” (The Great Wave), o quarto episódio desta primeira temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, não é tão bom quanto os anteriores. Percebe-se claramente que é um segmento de preparação de terreno para desenvolvimentos que virão e a tendência de se apoiar em diálogos expositivos observada no anterior se mostra até mais pronunciada aqui. Ainda assim, é um bom episódio, com momentos individuais apresentando força inegável.

Primeiro, Galadriel: nossa elfa favorita continua aprontando em Númenor, mas com o tempo a rainha Míriel (Cynthia Addai-Robinson) passa a sentir a pressão da presença dela. É Míriel quem abre o episódio, com um pesadelo no qual Númenor é destruída por uma onda gigante. Após o mistério do episódio anterior, descobrimos aqui que seu pai perdeu a razão com o tempo e era defensor de uma aliança entre elfos e homens, uma opinião não muito popular por ali. Descobrimos isso numa cena carregada de diálogo expositivo, mas algum tempo depois a série costura essa revelação com uma bela cena visual da árvore branca perdendo suas pétalas – na mitologia de J. R. R. Tolkien, as árvores sempre têm importância.

Também temos mais desenvolvimento para Isildur, que se revela um bom rapaz, mas capaz de arriscar a segurança de alguns amigos para ser dispensado da sua tripulação. É interessante, sabendo para onde parte da história vai, notarmos como as sementes do comportamento de alguns personagens vão sendo plantadas.

Enfim, é a árvore que possibilita a nova aliança, com Míriel prometendo uma viagem à Terra-média ao lado de Galadriel, que encerra o episódio numa nota empolgante. “A Grande Onda” é uma promessa, e talvez funcione melhor quando pudermos ver a temporada como um todo, mas por hora essa promessa é o que temos para hoje.

ENTRE MOMENTOS MAIS E MENOS INSPIRADOS

O episódio também faz outras promessas. Ainda com os anões, Elrond descobre a razão para o comportamento de Durin: a extração do mineral mithril que, de novo, será importante no futuro. Pena que essa revelação é entrecortada por um momento de “falsa-encrenca” que surge do nada, com Durin partindo para salvar uns anões presos num desmoronamento.

A encrenca acaba tão rápido quanto começou, mas de novo o episódio emenda um momento fraco com outro mais forte: o belo diálogo entre Durin e Elrond sobre aproveitar o tempo que se tem com o próprio pai. É uma bela cena, muito bem defendida por Robert Aramayo como Elrond e Owain Arthur vivendo o anão.

Já no front humano sulista, não descobrimos muito sobre o Adar: Apenas que é um elfo! Tão chocado quanto nós por ver um elfo liderando orcs, Arondil parte a tempo para topar com Theo (Tyroe Muhafidin), em busca de comida para o povo em fuga. Antes de se encontrarem, Theo faz uso do punho que encontrou com os orcs e isso não parece um bom sinal. Outra promessa, que é complementada pela empolgante cena da fuga dele e sua salvação por Arondil: A cena dos dois escapando pela floresta com tons de azul, em câmera lenta, é o grande momento de ação do episódio. Realmente, merecem parabéns a encenação do diretor Wayne Che Yip e a fotografia de Alex Morton neste momento em particular.

Outro momento visual de suspense que se destaca é a nuvem obscurecendo o Sol quando os orcs se aproximam de Theo e seu amigo. Elogiar a cinematografia da série já é chover no molhado.

Ao final do episódio, ficamos com perguntas: o pesadelo de Míriel vai se realizar? O que é o tal punho e qual sua ligação com Sauron? Quem é Adar? Claro, uma série funciona atiçando a nossa curiosidade pelo próximo episódio, mas este aqui em particular tropeça em alguns momentos em uma ânsia em provocar essa curiosidade no espectador, alternando grandes cenas com outras menos inspiradas. Ainda assim, é mais um bom momento da jornada, e agora que ela chegou ao meio – serão oito episódios na temporada – fica a sensação de estarmos nos aproximando de algumas respostas para essas perguntas.