Depois de “A Forma da Água”, “Roma”, “Coringa” e “Nomadland” saírem com o Leão de Ouro, o Festival de Veneza passou a ser o centro das atenções mirando o Oscar.

Grandes candidatos ao prêmio da Academia foram lançados na edição deste ano. 

Agora, é hora de ver quem saiu por cima, quem se deu mal e quem ficou na mesma no Festival de Veneza 2022. 

EM BAIXA

Para a surpresa de ninguém, é claro que o maior perdedor do Festival de Veneza 2022 foi “Não se Preocupe Querida”.

Afinal, pouco se falou do filme – o que se falou foi ruim – e mais se comentou dos bastidores e brigas entre os atores e a diretora Olivia Wilde. 

A única coisa que queria acrescentar sobre o que falei no vídeo passado é que neste caos todo quem mais perde é a Olivia Wilde.

Infelizmente, a gente sabe como a indústria é machista, então, com certeza, a culparão por todo o descontrole e fofocas de bastidores.  

O Harry Styles tem a carreira dele na música, é o grande astro pop do momento e este tipo de polêmica acaba sendo até interessante para ele.

Já a Florence Pugh e o Chris Pine também saem de boa, pois, demonstraram toda a insatisfação com o que ocorreu. 

Mas, Veneza também não foi nada bom para “Bardo”, o novo e ambicioso filme do Alejandro González Iñarritu.

O filme é a história de regresso de um jornalista, documentarista para o México, terra natal dele. Lá, ele irá refletir sobre a própria vida, a profissão, o destino e por aí vai. 

Acontece que a crítica e o público não compraram a ideia: há quem compare a uma versão desnutrida de “8 ½”, o clássico do Federico Fellini.

O crítico da Vulture, por exemplo, diz que o Iñarritu possui uma qualidade inegável para a estética e um domínio técnico absurdo, mas, não a capacidade de sair atirando ideias para o alto para ver se alguma cola. Já na Indiewire, “Bardo” foi considerado caricatural e indulgente. 

A real é que já existia um incômodo com o Iñarritu no meio cinéfilo, na crítica e, se bobear, na própria indústria. Ninguém nega que o mexicano seja talentoso e ousado, mas, também é impossível não afirmar que ele seja pretensioso demais beirando a arrogância. E as duas vitórias consecutivas no Oscar aumentaram este ranço assim como as polêmicas nos bastidores do novo filme. 

O choque acabou se dando com “Bardo”. Vamos ver se o filme se recupera nos festivais nos EUA e Canadá para, pelo menos, obter a vaga em Filme Internacional. Indicações a Melhor Filme e Direção para o Iñarritu parecem improváveis, complicando a vida da Netflix. 

NA MESMA 

Muitos candidatos ao Oscar 2023 não saíram do lugar no Festival de Veneza. Todos eles cumpriram o que prometeram, mas, sem explodir tanto quanto se imaginava. 

“The Son”, o novo filme do Florian Zeller, ganhador de Melhor Roteiro Adaptado por “Meu Pai”, foi um deles. 

A produção da Sony obteve 10 minutos de aplausos após a sessão e conseguiu colocar o Hugh Jackman na corrida pelo Oscar de Melhor Ator com facilidade. Laura Dern também se saiu bem.

Por outro lado, “The Son” passou longe da aclamação que se imaginava após o sucesso de “Meu Pai”, reconhecido gradualmente durante a temporada de premiações de 2021. Apesar dos elogios da imprensa, não chegou a ser unânime. 

No fim das contas, acho que continua sólido rumo ao Oscar, deve ser indicado em Filme, Roteiro e nas atuações, mas, dá uma sensação de que perdeu a oportunidade de sair de Veneza com impulso para ser o favorito da temporada de premiações. 

“Ruído Branco” também está nesta: o filme de abertura de Veneza obteve, em sua maioria, críticas favoráveis ainda que menores se comparado a “The Son”.

Os jornalistas se surpreenderam com um Noah Baumbach menos comedido e mais divertido ainda que a adaptação do livro de Don DeLillo seja considerada difícil.

Por outro lado, se antes podia ser considerado um nome próximo do certo para Melhor Ator, o Adam Driver não obteve tanta força assim para consolidá-lo entre os cinco.

Pode ser indicado, claro, mas, o caminho parece mais difícil agora. 

“Blonde” chegou a Veneza com a expectativa de ser uma bomba tamanho os atrasos e polêmicas envolvendo o filme.

Porém, o drama da Netflix sai vivo do festival com muitos elogios à fotografia e a Ana de Armas, o que a definitivamente coloca dentro do jogo em Melhor Atriz.

Só não foi melhor pelo fato da crítica considerar que o Andrew Dominik acaba sendo mais uma peça daquilo que pretende analisar – o voyeurismo da vida das celebridades. 

EM ALTA 

Seis filmes saíram muito fortes do Festival de Veneza 2022 rumo ao Oscar. O primeiro deles, na verdade, consolidou o favorito a Melhor Ator. 

A emoção do Brendan Fraser nos aplausos da plateia emocionou o mundo e rodou as redes sociais.

Não bastasse a atuação extremamente elogiada no longa do Darren Aronofsky, a torcida pelo astro neste retorno triunfal deve impulsioná-lo sem dificuldades à estatueta. 

E “The Whale” deve se apoiar no Brendan Fraser para fincar a vaga em Melhor Filme.

A última vez que um ganhador de Melhor Ator não participou de uma produção indicada na categoria máxima foi há 12 anos com o Jeff Bridges por “Coração Louco”.

Por fim, vale destacar a Sadie Sink, também bastante elogiada e que pinta como possibilidade em Atriz Coadjuvante. 

O Todd Field também voltou em grande forma aos cinemas após 16 anos com “TÁR”.

O longa foi unanimidade entre a crítica com elogios ao modo meticuloso do diretor e também à direção de fotografia e trilha sonora.

A Cate Blanchett, porém, roubou a cena e já se pode dizer sem medo que estará em Melhor Atriz após vencer Veneza. 

Pode chegar como favorita; tudo dependerá das outras concorrentes até lá. 

“Argentina 1985” também se saiu bem no Festival de Veneza.

Ricardo Darín foi bastante elogiado pela atuação no drama de tribunal e, mesmo sendo considerado longo – 2h20 de duração – o filme de Santiago Mitre venceu o prêmio da crítica internacional.

Desta forma, chega forte para Melhor Filme Internacional – improvável não chegar, pelo menos, na shortlist.

O estranho romance entre dois outsiders canibais poderia tornar “Bones & All” indigestão – perdão pelo trocadilho infame.

Mas, a retomada da parceria entre Luca Guadagnino e Timothée Chalamet, se não foi unânime, pelo menos, conseguiu ir bem junto à crítica e ganhou dois prêmios – Melhor Direção e Atuação com Taylor Russell.

A química do casal principal e a mistura de sensações provocada pelo amor e horror foram os aspectos mais elogiados do filme.

O mistério é saber se o Oscar compra a ideia. 

Para Melhor Filme, o Festival de Veneza colocou “The Banshees Of Inisherin” como um fortíssimo candidato. 

 Nenhum filme teve elogios tão fortes para todo o conjunto como ocorreu com a nova produção do Martin McDonagh.

A crítica exaltou o humor sarcástico acompanhado, ao mesmo tempo, de um traço trágico entre os personagens.

Exalta a amizade, mas, com tons sombrios em um estilo de humor visto em “Na Mira do Chefe” e “Três Anúncios Para um Crime”. 

Para além da categoria máxima, “The Banshees Of Inisherin” chega com potencial para Melhor Direção, deve render a primeira indicação da carreira do Colin Farrell, premiado em Veneza, e também do Brendan Gleenson e desponta como forte favorito a Roteiro Original.  

Por fim vale citar “All The Beauty And The Bloodshed”, da Laura Poitras.

O documentário ganhou o Leão de Ouro e chega como grande candidato da categoria, além de sonhar com a possibilidade voos mais altos.

O filme acompanha a luta da fotógrafa Nan Goldin e seu ativismo contra a família Sackler e suas conexões artísticas.