Há alguns anos, o diretor Christopher Smith lançou um suspense sobrenatural bem legal chamado Triângulo do Medo (2009), uma recomendável e bem bolada de mistura slasher movie com paradoxo temporal. De lá para cá, porém, ele não lançou outro filme tão bom. Parece que o diretor que fez aquele trabalho se perdeu num Triângulo das Bermudas próprio, e nunca mais se encontrou. Seu novo filme, O Convento é assombroso… de tão ruim e, ainda por cima, confuso – quando não se consegue nem entender direito a trama de um filme, o que deveria ser o básico para qualquer roteiro ou narrativa, dá para se ter ideia do nível da coisa aqui.

Bem, tudo começa com Grace, uma médica vivida por Jena Malone, que viaja até o convento do título, na Escócia, após o aparente suicídio do seu irmão, que era padre. Desde os primeiros minutos, sentimos que há algo estranho no lugar, as freiras são sinistras e o padre (Danny Huston) tem cara de vilão. E Grace começa a ter umas alucinações, descobre algumas coisas sobre o seu passado, e algumas pessoas morrem. E há um plot twist estilo M. Night Shyamalan no desfecho.

Nada disso, claro, é atraente para o espectador porque O Convento tem uma montagem que só pode ser descrita como confusa. Logo no início, nossa conexão com a protagonista é totalmente prejudicada por causa da forma caótica como Smith e o montador Arthur Davies alternam entre realidade e alucinação ou passado e presente de Grace. O filme é estruturado em torno de um mistério – do qual todos conhecem a resposta, menos a protagonista –, mas é repleto de diálogos expositivos e, ainda assim, fica confuso ao seu final.

Com essa confusão, é muito difícil se conectar com O Convento. Para piorar, a produção é muito leve nos quesitos terror e suspense. De fato, ele é tão inerte que dá até para sentir falta de uns jumpscares aqui e ali, para tirar o filme da apatia, mas nem isso Smith consegue orquestrar.

A reviravolta ao final é até interessante, mas merecia ser usada em uma narrativa melhor e mais organizada. De resto, temos Malone e Huston extraindo leite de pedra e se safando com interpretações dignas, especialmente ela, que frequentemente parece uma boa atriz desperdiçada em projetos fracos. E, justiça seja feita, de vez em quando aparecem algumas imagens e concepções visuais interessantes – uma delas lembra um momento de Midsommar (2019) – que comprovam que o diretor e sua co-roteirista Laurie Cook tiveram algumas boas ideias durante a realização do projeto.

Em um caso como esse, nunca se pode descartar interferência de produtores no resultado final – a montagem confusa e a duração curta (1h30) podem ser sinais de tentativas de reorganização da narrativa de acordo com a vontade dos donos do dinheiro. Mas, não importa a causa: O Convento é confuso como história e enfadonho como suspense/terror. É melhor ir rever Triângulo do Medo – tomara que um dia Christopher Smith encontre uma bússola, porque pelo menos uma vez, com certeza, ele demonstrou ser um cineasta promissor.