Qual a sua visão sobre as pautas levantadas em debates? Na estreia na direção de filmes, Caio Blat (“Xingu”) usa a corrida eleitoral como pano de fundo para uma grande discussão de relação entre um casal de jornalistas. Enquanto acompanhamos os diálogos entre eles, relembramos as questões que atravessam o nosso país nos últimos anos.

O roteiro de Jorge Furtado (“Ilha das Flores” e “O Homem que Copiava”) e Guel Arraes (“O Auto da Compadecida”) se constrói em cima de pautas em vigor na mídia contemporânea como pandemia, vacina, aborto e corrupção. Desta forma, “O Debate” toca em confrontos emergentes na nossa sociedade e que se potencializam no período eleitoral, tendo como foco a polarização generalizada e como esta impregnou o cotidiano dos brasileiros desde 2014. Os jornalistas interpretados por Debora Bloch e Paulo Betti representam, ainda que de maneira utópica, as opiniões progressistas e conservadoras que assolam a nação. Mesmo que não usem o manto de um deles, nem se autodeclarem de uma vertente política, tudo isto pode ser notado no discurso deles: as sutilezas, as agressividades, os lugares-comuns e o posicionamento.

Em questão temporal, “O Debate” se passa literalmente durante um debate eleitoral televisionado. Betti e Bloch mostram o compromisso social que a mídia tem nesses eventos e o quanto esses encontros podem ser decisivos na intenção de votos dos eleitores indecisos. Contudo, representam apenas um momento da narrativa, preocupada mais em falar da relação do casal de meia idade e, ainda, em apresentar como o discurso político permeia o seio familiar e o cotidiano dos indivíduos; o que nada tem a ver com a profissão que atuam e, sim, com suas convicções particulares. Como diria um dos personagens, “a política é mais sentimental, do que lógica”.

Os personagens emulam essa sensação por meio das formas contrastantes como enxergam as eleições e lidam com seus sentimentos. Enquanto ela é idealista e acredita que a mudança de líder da nação possa causar a revolta que almeja, o editor interpretado por Betti está mais conformado com a situação em que o país se encontra. Essa dinâmica antagônica entre eles cria uma liga que se mantém conectada até mesmo quando eles decidem se separar.

PERIGOSO LIMBO

O roteiro é eficaz em pontuar como a falência do relacionamento se articula dentro da tensão sociopolítica. Blat faz escolhas visuais que conseguem montar esse paralelo político sem que seja panfletário e apelativo, embora evoque em suas falas memórias recentes da pandemia, citando inclusive a situação no Amazonas. A montagem é importante para organizar e oferecer diferentes níveis de interesse e conexão ao relacionamento, assim opiniões são discutidas a exaustão desde o que comer até a gestação de uma vida. No entanto, isso funciona apenas visualmente.

Como já é perceptível, “O Debate” é um filme verborrágico, fica muito na fala e pouco na ação. A proposta de expandir a discussão para questões pessoais, dentro da casa de um cidadão de classe média é interessante e lembra, de certa forma, as séries nacionais com selo original da HBO devido a escolha de montagem, os filtros, a direção de arte e, principalmente, o tipo de personagem abordado. Levando a produção a cair numa espécie de limbo, entre o lugar comum e o topo privilegiado não apenas financeira ou com alto grau de instrução, mas também emocionalmente.

Afinal, quem termina um relacionamento e continua se encontrando – por livre vontade – para debater assuntos corriqueiros com tons de profundidade e pessoalidade?