Quando se pensa em cinema francês, grande parte do público ainda tem aquela ideia elevada, de filmes cabeça, fundamentados no diálogo e em inovações narrativas, como se ainda estivéssemos vivendo na época da Nouvelle Vague. Na verdade, o que existe hoje na França é uma indústria, menor que a de Hollywood, claro, mas ainda assim capaz de lançar centenas de títulos por ano. A produção do país é vasta e engloba todos os gêneros, até mesmo aqueles que a maioria das pessoas não tradicionalmente associa ao estereótipo de “filme francês”, como o terror, o filme de ação e as comédias.

Se lá existe uma indústria, com muitos lançamentos, então a possibilidade de produzir filmes ruins é alta – afinal, sempre sai algum produto estragado da linha de montagem. E de fato, este O Que as Mulheres Querem é ruim, mas muito ruim, tanto quanto as comédias românticas abobalhadas e cheias de clichês que saem todo ano de Hollywood. Trata-se de um filme que tenta ser engraçado, mas o faz de maneira forçada – e por consequência as risadas são poucas – e tenta celebrar o feminismo, mas só consegue reencenar clichês tolos eternamente associados às mulheres.

É um daqueles filmes onde as mulheres basicamente só falam de uma coisa: homens, claro! O longa começa estabelecendo um interessante paralelo entre as tensões femininas “daqueles dias” e a instabilidade do clima parisiense, e até vemos uma das personagens deitada numa cama vermelha dentro de um quarto vermelho – um raríssimo bom momento visual do filme, e cuja impressão se dissipa logo após o encerramento dos créditos de abertura.

Dessa abertura em diante, só se vê atrizes “ligadas no 220V”, como se estivessem bêbadas ou com uma TPM ininterrupta – talvez o roteiro do filme tenha sido escrito nas mesmas condições. Se tudo é tão exagerado, e todas as personagens são “histéricas” – porque parece ser assim que as realizadoras do projeto, todas mulheres, veem o seu gênero – simplesmente não há para onde ir. Nenhuma das personagens evolui ou se transforma, apenas prosseguem no mais alto e maníaco tom possível, e isso logo se torna aborrecido. E com quase duas horas de duração, O Que as Mulheres Querem praticamente se qualifica como instrumento de tortura.

Afinal, vejamos alguns dos tipos presentes no filme: uma das personagens está a fim de um advogado, mas seus distúrbios estomacais sempre a atrapalham na hora errada. Outra é uma garota que faz uma operação na vista para se livrar dos óculos que a enfeiam, apenas para descobrir a traição do seu marido. E há também aquela que bate a cabeça e se livra de todas as inibições, sexuais inclusive. Porém, antes de sofrer esse acidente ela já era doida, com tiques exagerados e apresentados de forma sem graça pela direção.

Todas as mulheres parecem à beira de um ataque de nervos tão grande que, próximo ao final do filme, quando elas se reúnem num evento filmado com tons sombrios como se elas fossem bruxas, o espectador até suspeita que o estúdio possa explodir de tanta energia acumulada. Pelo menos isso acabaria com a tortura…

Para dar crédito à diretora Audrey Dana – que é também uma das três roteiristas do projeto e interpreta a personagem Jo –, ela até tenta incluir no filme outras opções na forma da subtrama da dona de casa que passa a ter um caso com a sexy babá da família, e na da executiva que subitamente percebe não ter nenhuma amizade com outras mulheres. Mesmo assim, essas subtramas são mal desenvolvidas, concluindo-se com resoluções preguiçosas. Além disso, nenhuma dessas personagens é desenvolvida além do seu estereótipo mais básico de “dona de casa” e “executiva”. Não deixa de ser triste perceber que, num projeto dirigido e roteirizado por mulheres, as personagens retratadas sejam tão rasas, expondo apenas os clichês mais tolos relacionados ao sexo feminino. Até os homens são também reduzidos: os únicos dois personagens masculinos de destaque, o advogado e o astro de cinema, funcionam praticamente como vibradores ambulantes.

Os desempenhos são uniformemente sem graça: estrelas veteranas como Isabelle Adjani e Vanessa Paradis deviam demonstrar bom senso de não caírem em arapucas como essa, e é até difícil lembrar os nomes e rostos das demais atrizes. E por causa dos saltos constantes entre as várias histórias e da montagem preguiçosa, o filme nunca pega ritmo e se transforma praticamente numa bagunça.

E essa bagunça até impede O Que as Mulheres Querem de responder a este questionamento do título. Pelo visto só querem sexo e dançar juntas num flash mob ao final. Ele realmente parece ser a resposta francesa a filmes americanos como Sex and the City (2009) e Mulheres ao Ataque (2014), mostrando que os franceses, de vez em quando, não deixam nada a dever a Hollywood em matéria de ruindade.