Scott é um jovem que ainda nem chegou aos vinte anos, cujos únicos interesses na vida são maconha e tatuagens, e que vive em Staten Island, um daqueles distritos modorrentos do Estado de Nova York – “o único para o qual Nova Jersey pode olhar com superioridade”, uma personagem chega a dizer a certa altura de O Rei de Staten Island, novo filme do diretor/roteirista Judd Apatow. Se você já viu outros filmes de Apatow, ou ao menos algum drama independente do cinema norte-americano na vida, sabe que esse crianção não vai permanecer crianção por todo o filme. É aquela história que já vimos antes. Mesmo assim, é um filme que se alimenta das melhores qualidades de Apatow como diretor. E tem alguns dos defeitos dos outros filmes dele também.
Para viver Scott, o seu protagonista, Apatow – diretor que virou grande nome da comédia hollywoodiana com filmes como O Virgem de 40 anos (2005), Ligeiramente Grávidos (2007), Tá Rindo de Quê? (2009) e Bem-Vindo aos 40 (2012), além de produtor da influente série Freaks and Geeks – escala o comediante Pete Davidson, revelado pelo programa Saturday Night Live. E é a cara engraçada de Davidson que acompanhamos por todo o filme enquanto ele faz suas maluquices – ele é também co-autor do roteiro, junto com Apatow. Quando a irmã mais velha de Scott parte para a faculdade, ele fica sozinho com sua mãe (uma divertida Marisa Tomei). E quando a sua mãe arruma um namorado, de uma maneira completamente inesperada, tem início uma série de eventos que podem, enfim, levar Scott a confrontar a própria criancice e amadurecer.
Apatow é um cineasta meio “sem técnica”, ou seja, usa técnicas simples para valorizar acima de tudo os diálogos e os atores em cena – Esses são seus principais recursos. Às vezes usa câmera na mão para dar mais energia às cenas, às vezes fica quieto e deixa seus atores e o texto brilharem. O Rei de Staten Island não é exceção. É um bom filme, com vários momentos realmente engraçados, especialmente por conta dos diálogos. E Davidson está ótimo, com certo magnetismo que lhe garante presença de cena. Assim como Tomei e Bill Burr, como o bombeiro que se imiscui na vida da família. O filme ainda conta com pequenas e boas participações de Steve Buscemi e Pamela Adlon. Ninguém parece estar atuando, todos parecem gente real, e é nítido o amor que o diretor tem por seus personagens e o universo em que vivem.
DÉJA-VU LONGO DEMAIS
Porém, apesar desse óbvio carinho do diretor pelo material – que se sobressai até apesar de várias piadas de mau gosto, claro – O Rei de Staten Island, como seu protagonista, vaga sem rumo por uma boa parte da sua duração. Apatow é um cineasta com enfoque humano, mas muito indulgente: Seus filmes são simplesmente longos demais. Não há motivo real para O Rei de Staten Island durar 2 horas e 17 minutos. O filme se estende além da conta, e há material ali que poderia facilmente ficar no chão da sala de edição em nome de uma experiência mais forte.
E é difícil também não perceber que Apatow já contou essa história antes. Vários dos seus filmes anteriores são sobre homens infantilizados que precisam crescer – o único diferencial de O Rei de Staten Island é que se trata de um molecote de verdade, ao invés de um Paul Rudd quarentão ou um Seth Rogen trintão. Para dar crédito ao cineasta, seu filme é realmente bom, mas é um que se sustenta apenas no carisma do elenco e algumas situações engraçadas e/ou tocantes, já que a sensação de repetição é inegável.
Acaba sendo curioso que uma história sobre mudança de vida já pareça rotineira para o diretor. O Rei de Staten Island entretém, mas sinaliza que é o seu cineasta quem arrisca ficar parado no tempo.
É incrível como o roteiro desse filme é quase igual a um filme do começo dos anos 2000 que não é muito conhecido chamado “Filhinho da mamãe”. Só mudam algumas características dos personagens e alguns acontecimentos. No entanto, nesse filme, o protagonista manda bem melhor.