Originado de um aclamado musical da Broadway, ‘Querido Evan Hansen’ é a mais nova obra a entrar na categoria de adaptações malfeitas no cinema – aqui primordialmente porque o filme não consegue aproveitar o personagem que leva o próprio nome da história. Evan Hansen possui uma personalidade bem comum e fácil de se identificar quando pensamos no cenário de pandemia e tantos distúrbios gerados pelos últimos acontecimentos, mas, no longa, os diálogos não conseguem acompanhar os dramas do protagonista, salvo as cenas musicais onde as letras ajudam muito mais do que as falas do roteiro.

No longa, Ben Platt repete o papel que lhe rendeu o Tony de melhor ator no teatro como o personagem-título – um estudante do ensino médio ansioso e isolado. Na busca de compreensão e da sobrevivência na escola, ele acaba envolvido em uma mentira sobre o colega de classe que cometeu suicídio, se aproximando da família do falecido. Apesar de conhecer muito bem o personagem, é inegável a aparência madura de Platt para o papel e, embora a maquiagem e caracterização tentem resolver, isso fica salta à tela. Nesse caso em específico, era essencial a atenção do público voltada para os dramas do protagonista e não para o que há de errado com sua maquiagem.

Apesar da caracterização forçada, é possível perceber que Platt realmente se esforça e existe muita entrega em sua performance, principalmente, nos números musicais. Além das canções serem bem mais honestas e densas comparadas aos diálogos, elas também ajudam ao público perceber o que se passa na cabeça do protagonista em vez de nos deixar adivinhando nas entrelinhas de conversas com outros personagens. As cenas musicais também são benéficas para desenvolver o restante do elenco, com destaque positivo para Kaitlyn Dever como Zoe Murphy.

ESTRELAS COM PERSONAGENS NEGLIGENCIADAS

É inegável que toda a história é um grande diálogo sobre suicídio, uma temática bem delicada de se tratar e nesse aspecto a direção de Stephen Chbosky é essencial. Sua adaptação mais primorosa é ‘As Vantagens de Ser Invisível’ que também aborda assuntos igualmente complicados e novamente existe uma grande destreza em não banalizar o suicídio, retratando Connor Murphy de forma respeitosa, apesar de ele não ser aprofundado pela história. Nesse aspecto, Chbosky mantém seu enfoque sobre a família Murphy e todos os questionamentos deixados por um suicídio, mas, mesmo sem espaço na narrativa, ele encontra uma forma de homenagear Connor.

Gigantes como Amy Adams e a Julianne Moore surgem em personagens negligenciadas que destoam bastante da trama. A primeira fica presa em um papel raso e consegue certo destaque em uma cena de briga entre os Murphy, mas esse acaba se tornando mais um trabalho esquecível. Já Julianne Moore está incrível, porém os diálogos novamente não conseguem acompanhar a história; exemplo disto é a cena em que Evan revela seu segredo para a mãe, a qual poderia ser muito maior se as falas não parecessem deslocadas ao drama apresentado pelo personagem.

No final das contas, ‘Querido Evan Hansen’ tinha tudo para ser uma boa produção, mas, a falta de primor em elementos essenciais como desenvolvimento de personagem acaba totalmente com a experiência. Sendo um filme com mais de duas horas, a impressão que fica é de uma grande enrolação para contar a história linear sobre alguém comum, sendo mais uma oportunidade perdida de abordar um tema com debate tão necessário como o suicídio.

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