Sydney Sweeney mal tem tempo para estacionar e logo é saudada por dois oficiais do FBI. Logicamente, não se trata de Sydney Sweeney, a atriz, mas da personagem aqui encarnada pela intérprete, uma jovem ex-oficial com o pitoresco nome de Reality Winner. Os agentes têm um mandado. Logo aquela residência num tranquilo subúrbio da Geórgia se vê infestada de federais. O que exatamente Reality fez? 

O filme demora a revelar essa informação, mas qualquer pessoa que acompanhe a política norte-americana sabe o que está em jogo. Tradutora da NSA, frustrada com o trabalho, o rumo da vida e do país, Reality – agindo por impulso, parece – vaza para a imprensa documentos sigilosos sobre o envolvimento russo na eleição de Trump. Mas essa revelação só chega lá pelas tantas. Até lá, “Reality”, o filme, se ocupa majoritariamente de uma minuciosa recriação das banalidades e da conversa fiada entre os agentes e a informante durante a busca em sua casa. 

Esse contraste é interessante, mas inútil. Logo no início da projeção, uma cartela indica que tudo o que veremos foi baseado em transcrições dos arquivos de áudio do FBI daquele fatídico dia. De fato, todo o papo furado e os silêncios constrangedores, embora, sem dúvida, curiosos, não parecem servir a muito mais que emprestar certa credencial de realismo à empreitada. É uma dramatização meticulosa, sim, mas que lembra mais uma daquelas reconstituições saídas diretamente do “Linha Direta” do que um filme. 

Ficamos presos a esses diálogos numa única locação sem que haja qualquer ideia interessante de mise-en-scène rolando; nada no posicionamento dos atores ou da câmera que sugira qualquer coisa criativa ou que nos estimule de alguma forma. É tudo campo-contracampo, até que lá pelas tantas alguém dá alguns passos pelo cômodo e muda de lugar antes de voltarmos fatalmente ao campo-contracampo. Não há muito para os atores aqui.

Até mesmo a posição do filme resulta dúbia. Obviamente, pela indicação dos letreiros finais, o longa parece estar do lado de Reality – a última cartela lhe dá até um ar heróico. No restante da projeção, no entanto, embora saliente sua posição de fragilidade ante os brucutus do FBI, a diretora Tina Satter parece enxergar sua protagonista como uma moça um tanto quanto burrinha. Qual é a moral da história então? Fica para você me dizer, embora eu ache que ninguém realmente vá ter interesse por 80 minutos disso aqui.