Tenho uma resistência não é de hoje com o cinema de Zack Snyder. Reconheço que o estilo visual do rapaz seja bem particular com seus slows motions capazes de realçarem as coreografias e os efeitos visuais das épicas batalhas, fora o grafismo visual impactante em obras como “300”, “Sucker Punch” e nos filmes da passagem conturbada pela DC. Por outro lado, vejo esta embalagem toda mal aproveitada, principalmente, quando possui um grande material em mãos como ocorreu na divisiva adaptação de “Watchmen” 

A cada novo filme, sempre torço para que Snyder queime minha língua, mas, infelizmente, não será com “Rebel Moon – Parte 1: A Menina de Fogo” essa virada de chave. A produção lançada na Netflix mantém a ambição e grandiosidade típica do diretor sempre costurada de forma precária. 

Os primeiros 15 minutos até apontam uma surpreendente coesão para a megalomania do diretor/roteirista. A apresentação da colônia de um planeta distante oprimida pelo regime de Balisarius se mostra simples, mas, efetiva ao colocar o público no contexto daquele universo a partir de figuras facilmente identificáveis – o líder sábio e prudente, a garota traumatizada cobiçada por dois sujeitos de personalidades opostas, as ligações fraternas entre todos ali compõem este quadro. Logo, a chegada de um vilãozão impiedoso com cara de nazista como Atticus Noble (Ed Skrein) forma o cenário perfeito para envolver qualquer um. 

OS PROBLEMAS INSOLÚVEIS DE SNYDER 

O negócio é o que fazer a partir daí. Snyder não esconde beber da fonte de épicos como “Os Sete Samurais”, “O Senhor dos Anéis” e, principalmente, “Star Wars”. Da formação do grupo de heróis improváveis passando pela destruição quase completa de um planeta até um robô do bem, “Rebel Moon” segue o manual completo, atualizado para os tempos atuais com maior diversidade étnica, racial e de gênero entre os protagonistas. No meio disso, os efeitos visuais e as cenas de combate impressionantes como vemos no primeiro flashback de Kora (Sofia Boutella) atravessando um mar de bombas e tiros em slow motion. 

Pena que “Rebel Moon” não consiga de fato aproveitar a aventura e leve a sério demais tudo o que se passa na tela. Cada diálogo é encarado como um tratado filosófico tamanha a forma grandiloquente como é projetada. Isso mais afasta do que aproxima os personagens do público – impossível ter 10% da empatia sentida por Frodo ou Luke e até mesmo Rey em Kora. Isso se deve a um simples fato: Snyder não é Bergman nem sequer Tarantino ou as Wachowski. Por mais que tente, os esforços para dar uma aura maior ao roteiro e as falas do que realmente são tornam quase constrangedores certos momentos.  

Sobram frases de efeito sem fim para esconder um vazio de ideias para fazerem os personagens ganharem humanidade. Isso leva “Rebel Moon” a pular de herói em herói sem aprofundá-los à medida em que são apresentados. Vide o propalado General Titus: ele surge de forma inesperada, bêbado e desamparado, ganha uns dois, três minutos e já passamos para outra missão. Somente no final, retorna para um pequeno momento de destaque. Pouco demais para o excelente Djimon Hounson, um dos grandes atores do cinema americano mais desperdiçados da atualidade.  

Diante disso, as referências aos clássicos ganham uma reconfiguração: em vez de homenagens, elas passam a ser fantasmas. Afinal, em qualquer comparação, “Rebel Moon” não resiste nem como sombra. Triste demais vindo de alguém com tanto potencial como Zack Snyder.