13 Emmys, Globo de Ouro, Bafta, DGA, WGA, assunto principal das redes sociais… “Succession” iniciou a quarta e última temporada cercada de credenciais altas e pronta para se consolidar definitivamente como uma das maiores séries da história da HBO – um feito e tanto para um catálogo que conta com obras-primas como “Sopranos” e “The Wire”, por exemplo. “The Munsters” pode até ser cansativa em alguns momentos, mas, dá traz as principais marcas que tornam memorável a produção criada por Jesse Armstrong: intrigas, falta de noção, humor e pitadas de drama.  

Depois do drible no fim da terceira temporada a partir do interesse da GoJo na WayStar, Logan Roy (Brian Cox) inicia o ano cercado de novos aliados – Greg (Nicholas Braun) e o genro Tom (Matthew Macfadyen) – e distante dos filhos Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin). Não demora muito para eles entrarem em conflito na luta para adquirir a cobiçada empresa liderada por Nan Pierce (a sempre ótima Cherry Jones).  

O NONSENSE DOS RICAÇOS 

Apesar de ser colocada como uma série de drama pela HBO em todas as premiações possíveis e ser vista assim por 90% do público, “Succession” traz muito de comédia em seu DNA e “The Munsters” é a prova viva disso. Mesmo diante de assuntos sérios como a disputa da narrativa de uma sociedade através da mídia e até mesmo a interferência de magnatas no comando de um país e, consequentemente do planeta, há uma ironia fina sobre o quão ridículas são aquelas pessoas, suas motivações e os aparatos que a cercam – ainda que, infelizmente, as consequências das ações sejam sentidas por todos nós. Se a dancinha constrangedora no ‘parabéns a você’ de um puxa-saco para Logan é a face mais visível da bajulação excessiva, a família Roy executa o patético em um nível mais hard.  

Mesmo diante de investidores e de um bom projeto para uma nova plataforma de mídia sem os vícios da ATN, Shiv e Kendall subitamente descartam meses de trabalho para voltar à queda de braço com o pai. O nonsense atinge o ápice no leilão para adquirir o negócio de Pierce quando o personagem de Culkin em um raro momento de lucidez (talvez único?) precisa lembrar aos irmãos o que significa bilhões de dólares e as intenções ali presentes (“você quer f… o papai, você quer f… o Tom e sou o único que quer fechar um negócio e não quer f… ninguém”). A falta de noção deles encontra competição com Connor (Alan Ruck): precisando manter os incríveis 1% de intenções de votos na prévia do Partido Republicano para a presidência dos EUA, ele necessita de módicos US$ 100 milhões. Tudo isso como se fosse um trocado perdido no bolso da calça.   

A gênese deste pensamento está sintetizada no insólito jantar entre Logan e o pobre motorista em uma restaurante qualquer de Nova York: poderia ser um momento de um Deus entre os mortais, entretanto, não demora muito para notarmos como o magnata não está interessado em nada do que o seu ‘amigo’ fala. Ainda o vemos filosofar sobre a vida, a morte e de como tudo é um verdadeiro mercado – família, amigos, casamento, dinheiro, etc. Se assim pensa o patriarca, como esperar que seus fiéis súditos não encarem tudo e todos como números e negócios?  

O PREÇO DO JOGO 

No meio disso tudo, porém, há espaço para sentimentos reais (ou quase) como ocorre com Tom e Shiv. Como se estivesse em estado constante de hesitação, o personagem defendido sempre com inteligência por Macfadyen vive no limiar da glória e desgraça. Se parece ter acertado ao escolher Logan na reta final da terceira temporada, agora, porém, ele paga o preço de ver o casamento definhar e, consequentemente, não saber qual o aparo do resto da família terá se isso ocorrer.  

Já a brilhante Sarah Snook é a definição da incógnita, pois, fica difícil mapear se Shiv observa o matrimônio apenas como um jogo ou se realmente gosta de Tom – talvez, uma mistura dos dois, quem sabe. A sequência final da dupla olhando para o teto mostra o peso e o preço cobrado daquele jogo de intrigas e pernadas constantes da família Roy.

“The Munsters” marca um belo início para o último ano de “Succession”.