John Wick 4: Baba Yaga se parece com uma festa: uma celebração e apoteose da saga do personagem responsável por revitalizar a carreira do astro Keanu Reeves e que virou um marco do cinema de ação de Hollywood. Afinal, lá se vão quase uma década de John Wick em ação nas telas. Nesta festa, o mestre de cerimônias chama alguns convidados ilustres, mantém a música tocando, acelera o ritmo em alguns momentos e os fãs se divertem. Pode-se até dizer que a festa se estende um pouco além da conta, mas, ao final, é uma balada para se ficar na memória.

O filme retoma a saga do assassino John Wick (Reeves) que, no longa anterior, desafiou a Alta Cúpula, a sociedade secreta da qual fez parte, e voltou a ser perseguido em todo o mundo. Com um contrato cada vez mais milionário sobre a sua cabeça, Wick viaja por vários países tentando eliminar a organização, que envia o Marquês de Gramont (Bill Skarsgård) para resolver o problema de uma vez por todas. Mas uma brecha nas regras, que atormentam o herói desde seu retorno à atividade, quando mataram seu cachorro, pode ser a chave para Wick enfim conseguir a sua liberdade.

Como nos anteriores, o cineasta Chad Stahelski – o ex-dublê que virou diretor – aumenta ainda mais o escopo da sua visão e o tom épico da narrativa, que começou despretensiosa em John Wick: De Volta ao Jogo (2014). Neste quarto capítulo, temos cenas rodadas em Nova York, Osaka, Berlim e Paris. O tom épico se estende à duração: este John Wick 4 é o mais longo da série, com 2h49 minutos.

ODE AO CINEMA DE AÇÃO

E como nos anteriores, é o amor pela ação no cinema, pela coreografia, pelo absurdo só possível na sala escura, e pela imagem em conjunção com o som, que torna este John Wick 4: Baba Yaga algo especial. A ação é a história, é a experiência que conta e o filme, tem pelo menos, uns três ou quatro momentos para entrar no Hall da Fama do gênero. Keanu Reeves coroa seu estrelato usando um nunchaku, arma que Bruce Lee imortalizou em Operação Dragão (1973), corre, luta e atira, e participa de uma perseguição inacreditável em volta do Arco do Triunfo na capital francesa. Tais momentos são para se aplaudir.

E o mais incrível é que Reeves, o cara mais legal de Hollywood, aqui se mostra tão à vontade que cede um pouco do estrelato para amigos e lendas: ele chama Hiroyuki Sanada, com quem contracenou na bomba 47 Ronins (2013), para uma participação que acaba sendo emotiva, e traz os lutadores transformados em atores Scott Adkins (sob uma pesada maquiagem) e Marko Zaror, além do ícone Donnie Yen como Caine, um assassino cego com uma curiosa relação com Wick.

Yen – de novo fazendo um deficiente visual como em Rogue One: Uma História Star Wars (2016), que o apresentou para o público ocidental – é incrível no papel, rouba cenas e alguns de seus momentos com Reeves – incluindo a luta – estão entre os melhores do filme. Já Skarsgård é um daqueles vilões que se odeia desde a primeira cena; outro desempenho de nota é o de Shamier Anderson, que se mostra ora um inimigo, ora aliado de Wick, mas o fato de ele ter um cachorro o coloca mais próximo do herói do que ele imagina a princípio.

PRAZER DO CINEMA MODERNO

Mesmo com a duração mais longa, John Wick 4: Baba Yaga é o filme da saga com a trama mais focada e simples desde o original: perpetuamente em movimento, Wick vai de um lugar para o outro em busca de um objetivo, depois outro, que o ajudarão na sua jogada final. Talvez seja o filme com menos falas para Reeves também, pois o que vemos aqui é um protagonista mais cansado e em processo de aceitação da sua natureza, em contrapartida à determinação do primeiro filme.

O original era como uma noitada que homens fazem quando a esposa sai de cena, mas as sequências se dispuseram a olhar sobre as consequências dos atos de um homem que vive num universo noir e cinzento. Todo o ato final deste quarto filme é baseado nisso e a dupla Stahelski/Reeves fazem seu herói atravessar uma verdadeira via-crúcis sangrenta para alcançar alguma redenção.

Bem, o único problema sério de John Wick 4 é que, com essa duração, não consegue deixar de ser um filme indulgente. Fica-se com a sensação, especialmente no começo, que algumas cenas podiam ser mais curtas e poderiam se articular melhor com o todo. Mais disciplina, uns 10, 15 minutos a menos e o resultado talvez fosse ainda melhor.

Mas isso não compromete a experiência, que aposta 100% no fato de que o espectador considera a visão de um Keanu Reeves bem vestido matando pessoas como um dos genuínos prazeres do cinema moderno. Se você não acha isso ou se os anteriores não fizeram nada por você, não será este quarto John Wick que vai mudar a sua opinião. Porém, é o espírito de celebração, de espetáculo, que fica: uma saga que começou despretensiosa com um ator cuja carreira estava estagnada se tornou, por seus próprios méritos, algo feito para ser apreciado na tela grande e capaz de trazer grande satisfação aos fãs de cinema de gênero. Afinal, não é sempre, mas às vezes, o cinema blockbuster realmente consegue presentear o espectador.