A primeira incursão dos diretores búlgaros Kristina Grozeva e Petar Valchanov na comédia, “The Father” é uma história sobre diversos tipos de falta de comunicação. Com muita inteligência e humor preciso, o vencedor do Globo de Cristal, prêmio máximo do Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary, acompanha a história do pintor Vasil (Ivan Savov).

Após perder a esposa Valentina, ele escuta de um familiar que ela estaria tentando entrar em contato do além. Apesar da descrença de seu filho Pavel (Ivan Barnev), Vasil busca um paranormal para falar com o espírito da mulher. Os dois seguem viagem para encontrar o médium e, durante o caminho, as personalidades dos dois entram em seguidos conflitos.

A premissa conta com elementos semelhantes a My Thoughts Are Silent”, road movie da Ucrânia também centrado na relação pai e filho exibido no festival deste ano. Entretanto, o roteiro de “The Father” – escrito pelos diretores em conjunto com Decho Taralezhkov – é mais complexo em seus temas.

O filme quer tratar da relação familiar e a diferença entre as gerações, mas também se permite fazer críticas sutis à vida na Bulgária. Durante cenas que poderiam ser tratadas com seriedade, policiais ineficientes e médicos desonestos criam momentos a partir dos quais os cineastas extraem humor e absurdo. 

TONS REALISTAS ASSUSTADORES


O foco, em última análise, está na falta de comunicação que permeia a vida cotidiana. Em um filme que o uso de telefones é tão presente, os personagens constantemente falham em se entender. De um lado, Vasil não consegue estabelecer um diálogo com Pavel. Do outro, o rapaz esconde de seu pai que está prestes a começar uma família própria e, apesar de constantemente ligar para ela, mente para a namorada grávida sobre seu paradeiro e situação atual.

No meio de tudo isso, a determinação de Vadim em conversar com sua esposa a ponto de ignorar o senso comum parece ser sua forma de fugir do luto – espelhando outro título de Karlovy Vary, “Patrick”, de Tim Mielants. Suas tentativas de alcançá-la o levaram a uma jornada cada vez mais antagônica com seu filho – que atinge um grau próximo do ridículo no terceiro ato. 

É aterrador notar como o lado cômico dos personagens soa tão crível em “The Father”. O fato de que um evento real na família dos diretores inspirou o filme, como mencionado por eles na entrevista ao Cine Set, reforça isso. Ligações além-túmulo à parte, a comédia oferece um retrato preciso dos momentos da vida que só podem ser superados pela conexão. Não aquela que requer meios sobrenaturais, mas sim, a que precisa de corações abertos.