ALERTA: TEXTO COM SPOILERS 

“Você não sente medo?”, pergunta Sam (Keivonn Woodard) para Ellie logo após escaparem de um ataque zumbi assustador. A personagem de Bella Ramsey tira uma onda, mas, logo admite que fica temerosa o tempo todo sem convencer o garotinho.  

O questionamento não poderia ser mais do que apropriado, afinal, a heroína de “The Last of Us” parece encarar tudo como uma grande aventura adolescente – o que não deixa de ter uma certa dose de verdade para quem viveu grande parte da existência trancada em um regime autoritário e tem a imunidade para o caos. Ellie, entretanto, não demora a entender definitivamente que a morte e o medo são a tônica daquele mundo apocalíptico. 

Antes disso, “Endure and Survive” (“Resistir e Sobreviver”, em tradução literal) foca as atenções na caçada promovida Kathleen (Melanie Lynskey) a um tal Henry (Lamar Johnson). Não demora para sabermos que o rapaz é justamente o sujeito que apontou uma arma para Ellie no fim do episódio anterior de “The Last of Us”. Ao lado do irmão surdo, o rapaz se junta a Joel (Pedro Pascal) e Ellie para tentar escapar de Kansas City e da morte certa. 

UM MUNDO DE VILÕES E VÍTIMAS 

A rivalidade entre Kathleen e Henry escancara algo já insinuado no quarto episódio: tão perigoso quanto os zumbis são as decisões dos homens e mulheres em um ambiente de completo caos. Ambos carregam atitudes condenáveis (ele por delatar um companheiro e condená-lo à morte, enquanto ela decide a execução de dezenas sem julgamento prévio) mas, por outro lado, são responsáveis por ações nobres (Henry salvou o irmão da leucemia e Kathleen livrou toda uma cidade de um governo autoritário). Esta complexidade rica oferecida pelo roteirista Craig Mazin torna “The Last of Us” tão fascinante, pois, amplifica e dimensiona os sacrifícios de Ellie e Joel a cada nova interação para muito além de uma fuga de zumbis, o que torna a esperança da cura também uma crença (tola, talvez?) no resgate da humanidade daqueles que sobraram. 

Falando nas ‘doces’ criaturas, aliás, “Endure and Survive” entrega a melhor sequência de ação até aqui. A velocidade dos zumbis nos ataques aos humanos impressiona até pela facilidade com que passam por cima de qualquer um – vide o pobre Perry (Jeffrey Pierce) que não durou um mísero segundo no embate com um monstro-mor. Show de direção de Jeremy Webb e novamente da maquiagem, o ponto alto da série. 

Para muito além de ser uma cópia fiel do game, as mortes chocantes de Kathleen, Henry e Sam deixam claro como o universo de “The Last of Us” não permitirá descanso para Joel e Ellie. A morte é uma rotina e pode chegar para qualquer um – foi assim para Bill, Frank e Tess. E por mais que seja o sonho de uma adolescente em repetir o que vê em uma história em quadrinho, a realidade é que não há super-heróis no fim do mundo.