Marcando mais uma parceria entre Kumail Nanjiani (“Doentes de Amor”) e o diretor Michael Showalter, ‘Um Crime Para Dois’ torna-se mais uma comédia mediana no currículo de ambos. Apesar de Najiani fazer um excelente trabalho ao lado de Issa Rae, a história batida – basicamente copiada de ‘Uma Noite Fora de Série’ – não é suficiente para tornar o filme uma grande comédia, mas sim um bom candidato a guilty pleasure. 

O longa apresenta a crise no relacionamento do casal Leilani (Rae) e Jibran (Nanjiani). Quando ambos decidem seguir caminhos separados, um assassinato os une para solucionar o crime, salvar seus nomes e a relação dos dois. 

Como a trama voltada unicamente em desenvolver o casal protagonista, sem outros personagens relevantes, Leilani e Jibran possuem uma apresentação exemplar. Entre discussões e piadas do casal, conhecemos suas profissões e outras características de forma prática e dinâmica. Afinal, o público invade uma relação que já está acontecendo há anos e fica a par de suas problemáticas facilmente, como se tivesse vivido também todo o desgaste na relação. 

Além do roteiro facilitar esta familiarização com diálogos práticos e um bom alívio cômico, a química entre Issa Era e Nanjiani é o elemento essencial para que isto dê certo. Ambos conseguem dar toda vivacidade para um término de relacionamento e alternar entre esses momentos mais sérios e as piadas. 

Defeitos escondidos 

Falando do humor, este claramente marca presença, apesar de nem sempre pontuar. Existem boas piadas e ótimos momentos criados unicamente para serem aproveitados com este fim – principal exemplo disto é a orgia mascarada como referência a ‘De Olhos Bem Fechados’. Entretanto, como qualquer comédia, ‘Um Crime Para Dois’ perde a mão e exagera alongando algumas piadas que não tinham graça desde seu início. 

Além disso, a motivação para a trama é uma história já conhecida que o roteiro não se dá o trabalho de criar algo novo nem mesmo em seu desfecho. As reviravoltas são previsíveis e só fazem sentido pelo humor envolvido nas situações, ou seja, apesar do filme envolver um mistério sobre o assassinato, sua narrativa não é nada intrigante e fica totalmente omitida pela química do casal. 

No geral, ‘Um Crime Para Dois’ é um ótimo passatempo, um filme curto para ser aproveitado de forma despretensiosa pelo humor prometido. É claro que os inconvenientes e furos na história desanimam, porém, com uma dupla de atores tão competente, sempre pode-se tentar esquecer os problemas na trama. 

‘A Paixão Segundo G.H’: respeito excessivo a Clarice empalidece filme

Mesmo com a carreira consolidada na televisão – dirigiu séries e novelas - admiro a coragem de Luiz Fernando Carvalho em querer se desafiar como diretor de cinema ao adaptar obras literárias que são consideradas intransponíveis ou impossíveis de serem realizadas para...

‘La Chimera’: a Itália como lugar de impossibilidade e contradição

Alice Rohrwacher tem um cinema muito pontual. A diretora, oriunda do interior da Toscana, costuma nos transportar para esta Itália que parece carregar consigo: bucólica, rural, encantadora e mágica. Fez isso em “As Maravilhas”, “Feliz como Lázaro” e até mesmo nos...

‘Late Night With the Devil’: preso nas engrenagens do found footage

A mais recente adição ao filão do found footage é este "Late Night With the Devil". Claramente inspirado pelo clássico britânico do gênero, "Ghostwatch", o filme dos irmãos Cameron e Colin Cairnes, dupla australiana trabalhando no horror independente desde a última...

‘Rebel Moon – Parte 2’: desastre com assinatura de Zack Snyder

A pior coisa que pode acontecer com qualquer artista – e isso inclui diretores de cinema – é acreditar no próprio hype que criam ao seu redor – isso, claro, na minha opinião. Com o perdão da expressão, quando o artista começa a gostar do cheiro dos próprios peidos, aí...

‘Meu nome era Eileen’: atrizes brilham em filme que não decola

Enquanto assistia “Meu nome era Eileen”, tentava fazer várias conexões sobre o que o filme de William Oldroyd (“Lady Macbeth”) se tratava. Entre enigmas, suspense, desejo e obsessão, a verdade é que o grande trunfo da trama se concentra na dupla formada por Thomasin...

‘Love Lies Bleeding’: estilo A24 sacrifica boas premissas

Algo cheira mal em “Love Lies Bleeding” e é difícil articular o quê. Não é o cheiro das privadas entupidas que Lou (Kristen Stewart) precisa consertar, nem da atmosfera maciça de suor acre que toma conta da academia que gerencia. É, antes, o cheiro de um estúdio (e...

‘Ghostbusters: Apocalipse de Gelo’: apelo a nostalgia produz aventura burocrática

O primeiro “Os Caça-Fantasmas” é até hoje visto como uma referência na cultura pop. Na minha concepção a reputação de fenômeno cultural que marcou gerações (a qual incluo a minha) se dá mais pelos personagens carismáticos compostos por um dos melhores trio de comédia...

‘Guerra Civil’: um filme sem saber o que dizer  

Todos nós gostamos do Wagner Moura (e seu novo bigode); todos nós gostamos de Kirsten Dunst; e todos nós adoraríamos testemunhar a derrocada dos EUA. Por que então “Guerra Civil” é um saco?  A culpa, claro, é do diretor. Agora, é importante esclarecer que Alex Garland...

‘Matador de Aluguel’: Jake Gyllenhaal salva filme do nocaute técnico

Para uma parte da cinefilia, os remakes são considerados o suprassumo do que existe de pior no mundo cinematográfico. Pessoalmente não sou contra e até compreendo que servem para os estúdios reduzirem os riscos financeiros. Por outro lado, eles deixam o capital...

‘Origin’: narrativa forte em contraste com conceitos acadêmicos

“Origin” toca em dois pontos que me tangenciam: pesquisa acadêmica e a questão de raça. Ava Duvernay, que assina direção e o roteiro, é uma cineasta ambiciosa, rigorosa e que não deixa de ser didática em seus projetos. Entendo que ela toma esse caminho porque discutir...