Luiz Villaça traça uma curiosa carreira nos cinemas: longe das comédias de riso fácil com grandes estrelas do gênero chamarizes de altas bilheterias, o cineasta apresenta uma filmografia consistente com uma dose precisa de histórias capazes de mesclar humor com drama protagonizadas por personagens maduros em dilemas nada simples.

O simpático “Por Trás do Pano” abriu os trabalhos em 1999 em uma parceria com a esposa, Denise Fraga. Juntos, o casal ainda fez “Cristina Quer Casar” (2003) e “De Onde te Vejo” (2016) nos cinemas, enquanto na TV fizeram “Retrato Falado” (2000-2005), “Norma” (2009) e “Três Teresas” (2013). Também rodou o elogiado “O Contador de Histórias” (2009) e o documentário “Pagliacci” (2018).

Agora, lança “45 do Segundo Tempo”. Na comédia dramática, Villaça trabalha com um trio de veteranos e grandes atores como Ary França, Cássio Gabus Mendes e o excelente Tony Ramos. A história traz Pedro (Tony Ramos) marcando um encontro com seus melhores amigos do colégio depois de 40 anos sem vê-los. O convite para recriar uma foto tirada por eles no dia da inauguração do metrô de São Paulo é, na realidade, um pretexto para avisá-los de que ele pretende se matar, mas não antes de ver seu time, o Palmeiras, ser campeão.

Nesta entrevista, Ary, Cássio e Luiz falaram com o Cine Set sobre como fazer para encontrar o equilíbrio entre humor e drama e como foi a preparação com toques pessoais para chegar ao resultado visto nas telas.

Cine Set – Chama a atenção em “45 do Segundo Tempo” como a história gira para além de uma amizade, mas, focada em um resgate desta ligação. Como artistas vocês também realizam este resgate ao elaborar a construção dos sentimentos seja na direção ou na atuação. O que vocês trouxeram de elementos próprios, pessoais para o longa?

Cássio Gabus Mendes – A nossa preparação através da leitura de mesa feita com o Luiz Villaça durou 15, 20 dias. Durante este processo, mais importante do que a leitura e o estudo do roteiro em si foi dividir intimidades, dar opiniões e lembrar coisas sobre o outro, abrir corações, ou seja, se conhecer melhor durante longas conversas. O Luiz armou este circo para a gente e isso foi poderoso demais a todos nós tanto que, ao entrarmos no set, a intimidade estava mais do que estabelecida. Estre preparo foi importante para criar o que se vê entre os três personagens. Foi algo impressionante.

Ary França – Uma coisa que me pegou foi este encontro muito humano. O Luiz é meu amigo pessoal de bastante tempo – tenho esta sorte – e ele sempre procura este viés em tudo. Quando entramos no set, estávamos prontos. Temos também que lembrar que se trata do impasse entre sujeitos completamente maduros e são três atores também madurões – todos nos “45 do Segundo Tempo”. Falo por mim, pelo menos (risos de Ary e Cássio).

Logo, estamos nos 45 dando as nossas cartas ainda sem saber o tempo de acréscimo. Os três personagens também estão assim – o padre tem que se decidir se tem fé ou não e se quer ter uma vida sexual ou não; o Cássio vive no dilema de continuar casado e se aceita ou não o filho na condição apresentada, o Tony irá continuar vivendo ou não. São perguntas muito fortes e que podem não acontecer apenas com pessoas da nossa idade, mas, a urgência sim é maior neste período da vida. Afinal, resta muito pouco tempo de vida, mas, cada tempo é precioso.

Meu pai, são-paulino, olhava o tempo da partida e via faltar 10 minutos, já falava: “eita, ainda tem muito tempo” (risos).

Cine Set – Dentro disso que falou o Ary e o Cássio, gostaria de saber do Luiz sobre como manter o equilíbrio entre tratar de temas pesados e sérios de forma terna e com humor.

Luiz Villaça – Gosto de citar dois caras como referências. O Chaplin falava que o drama de perto é uma grande comédia de longe, enquanto o Billy Wilder dizia que a comédia era feita de histórias tristes.

Quando encontrei o grupo de “45 do Segundo Tempo” na mesa de leitura tomei um susto. O roteiro estava bem estruturado, mas, passada seis horas no primeiro, eu estava com dor no corpo de tanto rir. A partir do encontro de nós quatro com todo mundo se expondo, falando de suas histórias, percebi que o filme iria rolar.

Ao se ter esta cumplicidade, a comédia – diga-se, muito difícil de ser feita – surge de forma mais natural e suave sem fugir da profundidade que o roteiro exigia. Logo, não fugimos de debater sobre homofobia ou de um sujeito que precisa vender o almoço para pagar o jantar ou um padre discutindo a própria fé ou de um apoiador das Diretas Já e hoje é um advogado da Lava-Jato. Tudo isso são coisas profundas presentes na sociedade, mas, que tinha a comédia como válvula de escape. E isso só aconteceu por tido três craques – joguei com o Pelé, Maradona e o Cristiano Ronaldo.

Cássio Gabus Mendes – E tínhamos o Telê Santana comandando.

Cine Set – Mesmo sendo uma história de homens maduros, “45 do Segundo Tempo” consegue dialogar com todo o tipo de público. Qual a expectativa de vocês para a estreia?

Luiz Villaça – Muito grande. Falamos com muitos jornalistas que disseram ter visto o filme ao lado da família e saíram todos pensando após o término da sessão. Estamos felizes por ser um lançamento com mais 200 cópias e acredito no famoso boca-a-boca. Se assistirem, vão indicar. E isso para todas as gerações, pois, conversa com todas as idades.