O episódio anterior de “Feud” dava a deixa para o que iria acontecer nesse. Se você não conhece a história do que ocorreu com a rivalidade pós-”Baby Jane” e Oscar, a sucessão de acontecimentos absurdos provavelmente te levou ao Google. A briga entre as duas, que já tinha um tom de Glória Perez, se tornou novelesca em um grau que faria aquela vilã de novela mexicana que usava um tapa-olho (sim, sou dessa época) parecer um personagem crível nesse imbróglio todo. E com um texto (real) irresistível desses, Ryan Murphy e sua trupe entregaram mais um episódio sólido, após o tropeço da semana anterior.

Dirigido por Helen Hunt (ela mesma), este capítulo da rivalidade tocou nas feridas mais profundas de Joan, cutucadas com muito sal por Bette. Calejada após tudo o que aconteceu no set do filme anterior e, principalmente, pelo episódio do Oscar, a intérprete de Margo Channing resolveu fazer da vida de Crawford um inferno. Jogada de escanteio no set de Robert Aldrich – o único lugar onde ela ainda se sentia a estrela que um dia foi -, Joan tenta virar a partida, de uma forma que a gente bem conhece.

Passei os últimos seis textos falando sobre o quanto Jessica Lange e Susan Sarandon brilharam nesta série, mas dá para gastar novamente mais algumas linhas com elogios às atrizes. A primeira equilibra o absurdo do drama que cria nos bastidores com o desespero de uma pessoa que está cada vez mais sozinha. Já a segunda balanceia a ‘diversão’ de se vingar da personagem de Lange ao mesmo tempo em que vive a mesma solidão da rival, com a distância ainda maior da filha.

Os demônios que rondam as duas atrizes se enfrentam em uma cena simples, que sintetiza tudo o que está acontecendo com elas e com Hollywood naquele 1965. ‘Como era ser a garota mais linda do mundo?’, uma questiona. ‘Como era ser a garota mais talentosa do mundo?’, a outra rebate. Ambas concordam: ‘era maravilhoso’. O sentimento podia ser até vendido como rivalidade (e assim comprado por ambas), mas havia uma admiração escondida e uma necessidade de aprovação – principalmente da parte de Joan, como ela mesma afirma em um dos primeiros episódios.

O único porém deste episódio foi a aparente despedida de Pauline. Há um certo risco de inserir uma personagem fictícia em uma história cheia de rostos conhecidos. Os tropeços, como em ‘Tim Maia’ e outros filmes biográficos, sao fáceis de acontecer. No entanto, o time de ‘Feud’ conseguiu dar à personagem de Allison Wright um tom real e que cabia em toda a temática da série. Um ‘tchau’ tão sem impacto como o que ela deu foi um vacilo. Vamos esperar para ver se ela e a sensacional Mamacita de Jackie Hoffman retornam no derradeiro capítulo da série.

A propósito, o último episódio de ‘Feud’, que vai ao ar na próxima semana, tem um título intrigante. Em uma tradução livre, seria algo como: ‘quer dizer que, depois desse tempo todo, nós poderíamos ser amigas?’. Para saber como a história das duas termina, um simples Google explica. No entanto, a série da trupe de Ryan Murphy tem dado uma dimensão tão maior ao que era essa rivalidade que não há como não ter expectativas altas para esse desfecho (com um retorno de Mamacita e Pauline, sim?).