Um caminho perigoso parecia ser seguido por “Game of Thrones” após “Beyond the Wall”: a ânsia em agradar aos fãs (e aumentar a audiência) se juntou às restrições orçamentárias que, por outro lado, permitiram maior investimento nos efeitos especiais. Isso, no geral, prejudicou o andamento mais fluido de roteiro, como bem comprovamos nos seis episódios anteriores. Assim, a pressa e a confirmação de teorias de fãs se tornou a tônica da Sétima Temporada.

Todos esses problemas foram temporariamente sanados no season finale, “The Dragon and the Wolf”. Jeremy Podeswa retornou à direção depois dos dois primeiros episódios da Sexta Temporada, “The Red Woman” e “Home”. A seu favor, temos um roteiro que finalmente decide dar tempo ao tempo, desenvolvendo de forma suntuosa os diálogos, agora bem mais condizentes com a natureza dos personagens.

Essa maior delicadeza para com o roteiro é perceptível logo de início, com a interação de velhos inimigos de menor importância na Guerra dos Tronos. Brienne (Gwendolyne Christie), Jaime (Nikolaj Coster Waldau) e Clegane (Rory McCann), Bronn (Jerome Flynn) e Tyrion (Peter Dinklage)… todos, aos poucos, concluem que o lado em que se encontram nas batalhas é o que menos importa perante o desafio que está por vir – justamente a tônica do episódio, e justamente o que a ganância, orgulho ou loucura dos grandes líderes falha em considerar.

Se até a Brienne está questionando seus valores, quem somos nós para nos apegarmos aos nossos…

A atuação de Lena Headey como Cersei é perfeita nesse sentido: ela dá um tom acertadíssimo ao contraponto entre a frieza absoluta que move seu desejo de poder e vingança, ao passo que a promessa de um recomeço a partir da maternidade lhe tira, de certa maneira, a clareza em ver os White Walkers como ameaça principal. Se há algo irrepreensível que essa empolgante, porém problemática Sétima Temporada apresentou ao público, esse algo responde pelo nome da atriz, desde já uma séria concorrente aos principais prêmios de atuação da TV norte-americana na próxima awards season.

Lena Headey, dona e proprietária da empresa Game of Thrones.

Os dramáticos diálogos entre Cersei e os irmãos, que acontecem em dois momentos distintos do episódio e se espelham de forma intrigante, ainda assim não foram a cereja desse bolo. Esse título pertence às sequências de Theon (Alfie Owen-Allen), que ganhou uma não tão original oportunidade de redenção ao ganhar um empurrão de Jon para salvar a irmã Yara (Gemma Whelan). Porém, com o que teve em mãos do roteiro e um maior tempo para valorizar essa motivação, Owen-Allen comoveu em sua busca por ser mais que um covarde, além de garantir um pouco da nossa querida violência gráfica ao episódio quando detona a cara de um integrante da Iron Fleet não muito disposto a embarcar nesse resgate.

O maior arco de redenção que você respeita (ou não, ou só mais ou menos).

Graças à junção de um bom diretor e um bom roteiro, a reunião entre Lannisters, Targaryen e Stark na Dragonpit ganha o peso necessário para não parecer mais um dos inúmeros fan services dessa temporada. Daenerys (Emilia Clarke), agora convencida da gravidade da situação dos White Walkers, porta-se como uma líder prática, ainda que altiva; Cersei (Lena Headey) desmerece a situação o quanto pode, mas guarda ainda trunfos na manga para enganar a todos e mostrar que é uma louca, mas excelente estrategista; e Jon (Kit Harrington), bem, esse não nega que é Stark – embora a verdade sobre sua origem revele, finalmente, seu direito ao Trono de Ferro como legítimo descendente de Rhaegar Targaryen (Wilf Scolding) e Lyanna Stark (Aisling Franciosi).

Jon e Danny preocupadíssimos em convencer Cersei de alguma coisa, né?

Longe dali, no Norte, Sansa (Sophie Turner) finalmente decidiu mostrar que aprendeu uma coisa ou outra sobre manipulação com Lorde Baelish (Aidan Gillen) ao desmascará-lo num julgamento inesperado. A condenação do Mindinho à morte pelas mãos hábeis de Arya (Maissie Williams) e na ponta da adaga de dragon glass foi rápida e chocante, sem falar humilhante. Ele com certeza não contava que os valores dos Stark sobre a união da família teriam um peso tão impactante na decisão das irmãs de finalmente se unirem como numa alcateia de lobos.

Minha Sansa está vivíssima.

O positivo efeito de surpresa nesse momento veio justamente do elemento que mais foi criticado nos episódios anteriores: trata-se do quão súbita uma revelação é exposta na cena. Bran (Isaac Hempstead-Wright) finalmente abriu o bico sobre Baelish ser o causador da ruína dos Stark para servir a seus interesses, e isso se aliou à sagacidade de Sansa e ao desejo de Arya de vingar a família; no entanto, aqui esse imediatismo simplesmente funciona, pois os diálogos e esquemas políticos desenrolados ao longo da sequência dão conta de entender a situação não como um conveniente deus ex machina, mas como o resultado de um metafórico movimento de peças num tabuleiro de xadrez. A tensão desse momento é tão grande, se não maior que a que vimos anteriormente em Westeros no episódio.

Imagem meramente ilustrativa.

Por falar em cuidado com ritmo e consequências do roteiro, percebe-se que a HBO foi bastante cautelosa no que diz respeito a colocar seus protagonistas à prova quanto ao gosto do público. Revela-se o parentesco entre Daenerys e Jon numa das poucas sequências cômicas de “The Dragon and the Wolf”, que contou com o suporte sempre eficiente de John Bradley-West como Samwell Tarly e o curioso contraponto com Hempstead-Wright; daí, logo depois, vemos o Rei do Norte e a Mãe de Dragões na aguardada (e problemática) cena romântica entre tia e sobrinho, algo que com certeza escandalizaria parte da audiência se fosse conduzida de maneira errônea. Ao contrário de cenas de sexo anteriores, a sequência é curta e pouco explora o corpo nu dos atores, com exceção do destaque ao (belo) traseiro de Harrington – outra pequena subversão em relação a temporadas passadas, na qual as curvas femininas eram majoritariamente expostas.

( ͡° ͜ʖ ͡°)

No terceiro grande bloco narrativo de “The dragon and the Wolf”, destacamos ainda a revelação de como os White Walkers atravessam a muralha a partir da Eastwatch: quebrando tudo! A referência às batalhas de Senhor dos Anéis é direta, com o dragão de gelo e a quantidade absurda de Wights contra Tormund (Kristofer Hivju), Beric (Richard Dormer) e companhia fugindo em desespero. A cena, que tem menor duração se comparada aos plots em Westeros e Winterfell, delineia acontecimentos impactantes o suficiente para garantir a curiosidade sobre a oitava e última temporada. E sim, “The dragon and the Wolf” é mais que bem sucedido em garantir que voltemos a esse universo nos seis episódios que comporão a Oitava Temporada no futuro.

Queima, congela ou só quebra mesmo? Fica o questionamento.