E Obi-Wan Kenobi chega ao fim com esta Parte 6 (da série? Ou da temporada? Até o momento, nada foi confirmado). Bem, é um fim. E agora, vendo a coisa toda em retrospecto, algo fica claro: teria funcionado melhor como filme. E de fato, pesquisando um pouco sobre as origens do projeto, percebe-se que sim, começou como filme, uma daquelas “Histórias Star Wars” como os longas Rogue One ou Solo, mas que não chegou a ser produzido.

O fato é que esta mesma história podia ser contada em duas horas, cortando partes supérfluas e dando mais foco em algumas passagens e personagens. A Parte 6 encerra a série como ela viveu: algo meramente ok, feito para agradar fãs. Mas com duas horas, essa mesma experiência poderia ter muito mais da urgência e do verdadeiro senso de excitação que Star Wars muitas vezes proporciona.

Felizmente, graças aos céus, o Disney+ não é a Netflix, então Obi-Wan Kenobi não precisou ser insuportavelmente esticada em 10 ou mesmo 13 episódios. Mas não há como negar que no meio destes seis episódios, há uma história bem mais legal que foi diluída por fatores externos e algumas decisões criativas infelizes.

SEM LIÇÕES DE ‘SAUL’

Enfim, temos duas linhas narrativas na Parte 6: Kenobi decide se sacrificar como herói e parte sozinho para um planeta a fim de enfrentar Vader; e Reva, ferida, vai até Tattoine à procura da fazenda dos Lars. Me desculpem, fãs, mas a primeira linha narrativa é algo apenas “cosmético”, porque sabemos que este não será o encontro definitivo entre Kenobi e Vader. Por mais que os atores, os efeitos visuais e a direção de Deborah Chow se esforcem, não importa a quantidade de golpes de sabre de luz os dois troquem: nada de importante acontece.

O que não quer dizer que não poderia acontecer: ora, se uma série como Better Call Saul ensina é que não é porque se trata de uma prequel que não pode ser emocionante e até imprevisível. E bem, para dizer a verdade, a luta entre os dois rende sim, ao menos, um momento emocionante, envolvendo o elmo quebrado de Vader e uma encarada “olhos nos olhos”. Porém, mesmo o bom trabalho dos atores nesta cena é um pouco desperdiçado porque, no fim, a encarada não aprofunda o relacionamento dos dois ou a tragédia entre eles, nem nada. Kenobi apenas reconhece que seu amigo morreu mesmo e vai embora – ou seja, algo que já podia ter acontecido alguns episódios atrás.

A outra linha narrativa é pior. Ora, depois da revelação sobre Reva no episódio passado, como aceitar que qualquer ação dela neste faz qualquer sentido? Se ela odiava Vader, que sentido faz se transformar nele? Que sentido faz querer matar Luke? O episódio ainda gasta considerável parte nesTTa “falsa encrenca”, porque, de novo, o Luke é um personagem invulnerável. Chega-se até a um momento de suspensezinho barato com o grande herói da saga prestes a ser morto…

A SÉRIE

Enfim, este é o resultado de Obi-Wan Kenobi: um produto que até foi agradável de assistir – na maior parte do tempo – mas, que no seu processo de escrita, acabou sendo esticado além da conta e cujos roteiristas pareciam mais interessados em fazer um fanfilm do que algo realmente de impacto ou forte do ponto de vista dramático.

O que nos traz a uma constatação: hoje em dia, parece que o jogo virou a respeito da trilogia prequel de Star Wars. Afinal, o amor por ela é o que explica, em grande parte, a existência de Obi-Wan Kenobi. Se fosse um filme, poderia ser perfeitamente um “Episódio 3.5”. Apesar dos seus problemas, aqueles filmes tiveram seu impacto e foram o contato inicial de muitos fãs com a saga. A série acabou sendo um pequeno tributo aos Episódios I, II e III, ao mesmo tempo prestando alguns fanservices que os espectadores queriam ver – a própria cena final desta Parte 6 não passa disso, e aponta que se os produtores e Ewan McGregor quiserem, podem até continuar a brincadeira mais um pouco.

Se forem continuar, que na próxima vez consigam criar uma história que não pareça tão presa ao cânone de Star Wars, e que seus criadores não se sintam tão limitados pela camisa-de-força criativa que pode ser trabalhar com uma história cujo destino já é conhecido. É difícil, mas já vimos exemplos de que pode ser feito – e bem.

Numa nota pessoal, comecei esta série de críticas de Obi-Wan Kenobi ainda desiludido com a saga. A série não foi boa a ponto de reacender minha empolgação – continuo sem vontade de ver O Mandaloriano ou O Livro de Boba Fett. Mas curiosamente, ela me deixou com um pouco de vontade de revisitar a trilogia prequel. Loucura? Talvez. Mas se aqueles filmes deixaram um legado a ponto de, décadas depois, alguém querer revisitar o seu herói mais emblemático, talvez sejam de fato obras que merecem ser revisitadas. Uma coisa é certa: É muito mais fácil eu rever os Episódios I, II ou III do que A Ascensão Skywalker…