Na minha crítica do episódio passado de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, eu disse que a série tinha chegado a um momento de definição. Pois bem, agora os criadores provam que tipo de série estão fazendo: uma que tem espetáculo, sim, mas que também se preocupa com seus personagens, os relacionamentos entre eles e o universo que estão criando. E também se preocupam com o respeito a J. R. R. Tolkien, visto que, neste episódio em particular, destacam-se temas como força frente à presença do mal e encontrar no outro a capacidade para fazer o bem. Essas são noções muito caras ao autor e que norteiam boa parte dos seus escritos sobre a Terra-média, incluindo “O Senhor dos Anéis”.

Intitulado “O Olho”, o episódio se inicia com o olho de Galadriel se abrindo após a erupção do vulcão no episódio passado. É um belo toque visual da diretora Charlotte Brändstörm, e boa parte do episódio é dominado pela cor alaranjada e pelas cinzas que flutuam pelo quadro fílmico. Este é talvez o mais belo episódio, visualmente falando, da temporada.

Depois da desgraça, é hora de catar os cacos. Galadriel encontra Theo – e os dois têm uma bela conversa lá pelo meio do episódio sobre luz e escuridão, na qual nossa heroína elfa fala sobre seu irmão e marido, e como ela dançava com ele (!). Quando alguns orcs aparecem, Brändstörm cria outro momento visual de impacto, com a dupla de heróis escondida na parte baixo do quadro, no escuro, enquanto o orc está na parte de cima, com uma tocha. Outra cena que parece saída de alguma ilustração de um livro de Tolkien.

Outros sobreviventes se reúnem – e o episódio poderia passar sem o falso suspense e o draminha em torno da aparente morte de Isildur, que obviamente não engana nem quem não conhece nada do universo de O Senhor dos Anéis. Mas os reencontros mais tarde servem para trazer um pouco de catarse emocional e reforçar a noção “tolkeniana” de que a “sociedade” entre pessoas é o que torna a escuridão suportável e capaz de ser vencida.

A outra subtrama do episódio, envolvendo os Pés-Peludos, também tem a ver com essa conexão. Apesar desse segmento ainda não ter de fato empolgado, é interessante a noção de um “pré-Condado” aparecendo aqui, apenas para ser destruído depois pelas três figuras misteriosas que estão à caça do Estranho – um mistério que até agora ainda não interessou muito. E de novo, retorna o tema da conexão, quando Nori e alguns outros decidem ir atrás do Estranho para ajudá-lo.

E finalmente, a relação entre Elrond e Durin rende as melhores cenas do episódio. É quando o elo entre esses dois personagens vai além da lealdade a seus reis ou seus povos. As cenas entre Richard Aramayo como Elrond e Owain Arthur como Durin, e também as com o sempre ótimo Peter Mullan como o rei Durin, funcionam e são realmente comoventes. De novo, a temática da conexão, e da cooperação entre pessoas e povos, é a chave para a história e seu universo.

“O Olho” tem lá alguns problemas, como apontado. E depois da agitação do anterior, talvez uma porção da plateia sinta falta de uma maior rapidez na condução das tramas. Mas os acertos deste episódio superam os erros: Quando descobrimos que a região que estivemos acompanhando se transformou em Mordor, e que ali no futuro ficará a Montanha da Perdição e o Olho de Sauron, percebe-se que Os Anéis de Poder está construindo sua narrativa com cuidado e consideração pelo material-fonte. Histórias precisam de espaço para respirar, para preparar para o próximo grande momento. “O Olho” pode até não ter a empolgação do anterior, mas usa bem o seu tempo, explorando e enriquecendo os temas mais importantes e caros ao criador de todo este universo.