O que o cinema brasileiro tem oferecido ao público nos últimos anos, em relação a gêneros? Comédias, claro. Dá-lhe Leandro Hassum, Fábio Porchat e Ingrid Guimarães! Alguns dramas, e em menor número, alguns títulos de ação. E só.

Digam-me qual foi o último longa brasileiro de terror que chegou aos cinemas daqui? Tirando os do Zé do Caixão, e isso já faz alguns anos, acredito que mais nenhum com grande destaque. Portanto, deveria ser com bons olhos que iríamos receber um filme como Isolados que, com o perdão do trocadilho infame, está sozinho no gênero, e que poderia representar um primeiro passo para uma maior abrangência de gêneros alcançados pela produção audiovisual nacional.

É, poderia até ser. Mas mesmo com todo o bom coração do mundo, mesmo levantando a bandeira do Brasil no alto, cantando o hino nacional com toda a força, seria possível fechar os olhos e ouvidos para os incontáveis defeitos dessa película, que de tanto copiar os Atividades Paranormais e Jogos Mortais da vida, pouco tem de brasileira.

Lauro (Bruno Gagliasso) e Renata (Regiane Alves) vão passar alguns dias numa casa de campo na região serrana do Rio de Janeiro, em busca de paz e tranquilidade. Porém, são surpreendidos com o fato de que assassinatos seguidos de estupros estão sendo praticados na região. Atormentados com esta ameaça os dois passam a ter uma estranha relação, que pode colocar em risco a vida de todos.

Pelos créditos iniciais você já pode imaginar o desastre que virá em seguida, com aquela fonte pavorosa seguida de efeitos visuais extremamente duvidosos, como se dissesse que sim, que esse filme vai utilizar artifícios dos mais baixos, dos mais clichês, dos de maior boniteza para chegar ao lugar fácil que pretende.

E o maior responsável por isso é mesmo o diretor, Tomas Portella, que acaba confundindo um pouco as coisas, tendo uma mão tão pesada quanto a de um elefante na hora de inserir suspense nas fraquíssimas situações criadas pela roteirista Mariana Vielmond (comento depois o roteiro).

Parece que Portella acabou de sair da faculdade de cinema e quer mostrar que aprendeu bastante coisa no curso, inserindo planos absolutamente desnecessários, envolvidos num suposto requinte, que não demonstram nenhuma perícia do seu realizador, mas apenas que ele deve ter visto aquilo em algum filme, achou bacaninha e quis repetir no seu, como nas cenas de perseguição na floresta, repletas de planos fechados com câmera na mão, tremida, planos detalhes bobos, completamente desnecessários, closes sem sentido (aquele mostrando o olho assustado do Gagliasso…), e uma repetitiva câmera subjetiva por trás das folhas, que evidenciam o estilo farofeiro do diretor, uma masturbação sem recompensa nenhuma.

Como se não bastasse, Portella quer fazer uma cópia descarada do que há de pior do cinema de terror norte-americano, que é a trilha carregadíssima, caricata, de péssimo gosto (merece indicação ao Framboesa de Ouro na categoria), situações absurdas, lugares mal iluminados convenientemente, vilões que não tem rosto, e sustinhos ridículos proporcionados por momentos de silêncio seguidos de um BAM!, que supostamente deveriam nos assustar. Até quarto com bonecas e caixa de bailarina teve nesse filme. Além disso, flashbacks são inseridos aqui e ali de maneira inacreditável de tão incabidos, completamente desnecessários, ilustrando o óbvio, sendo ainda acompanhados de legendas, o que me deixa a clara impressão de que Portella está nos chamando de incapazes, e o faz aos berros.

A direção de atores também é um grave defeito do trabalho, que desperdiça o bom elenco que possui ao obrigá-los a seguir uma representação cheia de caras e bocas, com falas posudas, que querem ter impacto através da forma, não do conteúdo. Gagliasso e Alves até que tentam ir além do que é proposto, mas não conseguem, pois são sabotados de todas as maneiras.

Sabotados pela direção e pelo frágil roteiro de Mariana Vielmond que cria situações tão absurdas, que fica impossível torcer pra quem quer que seja. Coisas como o desejo, digamos… “estranho” da protagonista em fazer passeios pela floresta, o carro que atola num momento bem específico, a trama dos policiais que é chata demais, feita de maneira desleixada, o celular, que mesmo depois de cinco dias sem energia, continua funcionando, e por aí vai. Tudo isso somado a diálogos expositivos, que recorrem sempre a falas artificiais, digno de um Walcyr Carrasco.

Várias vezes duvidei do meu relógio durante a projeção, pois não era possível que tão pouco tempo houvesse passado, pois parecia que estava sendo obrigado a acompanhar esse trabalho entediante por horas a fio, e o ponteiro ainda dizia que iria ter pelo menos mais 40 minutos de filme pela frente. Se o meio do filme se mostra insuportável, o desfecho até que tenta trazer alguma coisa diferente, mesmo que de maneira bastante previsível, sendo possível de ser previsto ainda na metade da projeção. E aí a zona já estava feita, todas as ações que buscavam trazer alguma legitimidade à história só deixavam o resultado final ainda mais equivocado.

É evidente que é importante incentivar a criação de filmes de gêneros diferentes do que o cinema brasileiro normalmente produz, e o terror está aqui incluído, claro. Mas para isso acontecer é preciso ter projetos melhor elaborados, com mais perícia, mais qualidade dos seus realizadores, pois de nada adianta produzirmos filmes de diversos estilos, se essa variedade não tiver o mínimo de coerência.

436920801NOTA: 2,5