É muito difícil fazer uma crítica sobre O Apocalipse.

Acabo de vir de uma mesa-redonda sobre crítica cinematográfica, nela pudemos conversar sobre o papel que a crítica exerce, de que forma ela pode contribuir para a evolução da arte, e principalmente o fato de que o texto deve ter como norte o desejo de contribuir a quem realizou o trabalho, fazendo comentários de maneira construtiva.

Exatamente por isso é tão difícil falar sobre este… material audiovisual. Nicolas Cage já se meteu em muitos projetos de péssima qualidade, mas nada que se comparasse a este equívoco.

Se me permitem, não farei um texto como de hábito. Me recuso. Me recuso por não conseguir encarar no trabalho nada que seja digno de elogio, nada que possa ser colocado como uma tentativa de fugir do senso comum, ou pelo menos tentar se afastar dos elementos mais ingênuos, das soluções mais clichês e piegas. Aqui tudo é preliminar, tudo foi pensado na primeiríssima camada, em um filme que tem uma clara mensagem religiosa, que apenas cumpre um enorme desserviço.

Está tudo na bíblia. Os que são ridicularizados por serem fanáticos, por levarem ao pé da letra o que está escrito no “livro sagrado”, são os que tem razão, que foram ridicularizados, mas recompensados por Deus no juízo final. O filme não entende (ou entende) que vende a mensagem de que apenas os religiosos se salvarão, que só os fanáticos enxergam a verdade, que você tem que ir à igreja mais próxima para ficar perto de Deus, apenas isso o salvará.

Ainda por cima cria um maniqueísmo rasteiro ao colocar como antagonistas pessoas céticas, que não acreditam nos constantes avisos que os fanáticos bradam. Só que não há meio termo. No filme, o cético é um ser pseudointelectual que se acha superior por não acreditar em Deus, jura que é inteligentíssimo, discrimina a espiritualidade alheia, e desrespeita quem tem fé. Esse mecanismo de péssimo gosto fica explicitado logo no início do filme, na interminável sequência do aeroporto, em que já é fácil de detectar que haverá um arco dramático amarradinho que vai fazer com que todos os que não acreditavam se mostrem arrependidos, aceitem Deus como o senhor divino, e tenham uma nova vida. E é óbvio que isso acontece, da maneira mais clichê e previsível, com direito até a oração coletiva.

A direção de Vic Armstrong é tão ruim que fica até difícil falar sobre. Sua condução de ritmo é equivocada, e isso incomoda demais em um filme de quase duas horas. A direção de atores é exagerada, com todos os atores exagerados, que “auxiliados” por um roteiro tão ruim quanto a direção, criam situações contínuas de vergonha alheia. Tudo isso conduzido por uma trilha sonora que beira a autoparódia, de tão genérica, sempre ditando o estilo de cada cena, com músicas caricatas de aventura, drama, romance e ação.

Sério, não tem como continuar. O Apocalipse ofende, desrespeita, e ficar falando sobre isso só nos faz andar pra trás.