O Ataque não é um bom filme. Pode-se até afirmar que ele é sintomático da atual crise de criatividade do cinema americano, especialmente no tocante aos arrasa-quarteirões, os projetos milionários dos grandes estúdios, cada vez mais centrados em explosões e efeitos e com uma quantidade cada vez menor de novas ideias. É um filme de ação sobre um grupo de terroristas e mercenários que invade a Casa Branca, sede do governo americano, com um plano terrível. Lá dentro, no entanto, há um herói solitário capaz de frustrar esses planos e salvar a todos, inclusive ao Presidente.

Pode-se elegê-lo como representante da falta de criatividade porque, há alguns meses, foi lançado outro filme que contava exatamente a mesma história de O Ataque: Era Invasão à Casa Branca (2013). Devido à proximidade não se pode dizer que um imitou o outro, mas a disposição dos estúdios em gastar dinheiro com projetos tão parecidos, esquemáticos e pouco criativos não deixa de ser triste. Para completar o desânimo, ambos os filmes “tomam emprestado” suas caracterizações e elementos da trama do clássico moderno do cinema de ação Duro de Matar (1988).

O Ataque, aliás, é ainda mais descarado, pois nem tenta disfarçar sua imitação. O herói da vez se chama John Cale (vivido por Channing Tatum), cujo nome é até parecido com o do protagonista de Duro de Matar, John McClane. Cale tem de se esconder em fossos de elevadores, as autoridades causam mais problemas do que os solucionam, um membro da família do herói vira refém e fica em perigo (essa não podia faltar), e ao longo do filme o protagonista tem de se virar sozinho (usando uma camiseta branca, claro) para proteger o Presidente Obama… ops, quer dizer, James Sawyer, interpretado pelo ex-Ray Charles e ex-Django Jamie Foxx.

No entanto, enquanto Invasão à Casa Branca se levava a sério e terminava sendo apenas enfadonho, O Ataque consegue ser um pouco (mas só um pouco) melhor por abraçar o absurdo e um espírito de brincadeira. Isso se deve ao diretor Roland Emmerich, o “Mestre do Desastre” conhecido por adorar destruir as coisas, ou mesmo o mundo, em obras como O Dia Depois de Amanhã (2004) e 2012 (2009). Emmerich tem uma relação complicada com a Casa Branca, pois a destruiu no seu maior sucesso, Independence Day (1996) – a famosa cena é até citada, de forma cômica, em O Ataque.

Emmerich filma com um senso leve de ironia (quase um cinismo) este típico “filme pipoca descerebrado” (mais um para sua carreira), com todos os defeitos a que se tem direito. A produção é recheada de lugares-comuns e diálogos expositivos. Afinal, a agente vivida por Maggie Gyllenhaal praticamente resume o protagonista para o espectador, ao dizer que “ele não respeita a autoridade”… Qualquer um que já tenha visto meia dúzia de longas de ação consegue adivinhar com facilidade as reviravoltas da trama, e ao longo da projeção ela começa a ficar cada vez mais absurda – nos minutos finais os heróis estão praticamente lutando para salvar o mundo.

Mas, de forma curiosa, o absurdo cada vez maior consegue tornar O Ataque um pouco divertido. Contribuem para isso as atuações do elenco, e aí fica clara a estratégia de Emmerich. Alguns dos atores atuam a sério, para manter a história em curso, como a já citada Maggie Gyllenhaal ou o veterano James Woods. Já outros, especialmente Foxx e Tatum, revelam plena consciência em alguns momentos de estarem participando de uma bobagem – Foxx chega a parodiar numa cena o famoso presidente herói de Força Aérea 1 (1997), e é provavelmente o único chefe de Estado americano da História a ser visto usando tênis num filme… Então, por um lado o cineasta se leva a sério só o suficiente para evitar que tudo vire uma paródia, mas também demonstra que está se divertindo horrores com aquilo e transfere esse espírito para a plateia. Consequentemente, O Ataque acaba tendo um aspecto de “prazer culposo”, como algumas das outras obras do cineasta.

De novo, não é um bom filme. O roteiro é fraco e copia sem desfaçatez momentos de outro filme bem melhor. É previsível, tolo e com um final patrioteiro, conforme se espera, e poderia até ser um pouco mais curto. Mas é provavelmente o único filme da história do cinema em que se pode ver um presidente americano disparando um lança-foguetes, ou uma personagem impedindo um ataque aéreo ao agitar uma bandeira. Esses dois momentos não têm preço, são tão idiotas que alcançam um nível sublime. Será este o talento disfarçado de Roland Emmerich? Sinceramente, um filme tão ruim que se torna bom e depois volta a ser ruim não se vê todo dia.

Nota: 4,5