Quando a Artrupe Produções lançou “A Segunda Balada” um sopro de renovação surgiu no cinema amazonense. Apesar do clichê do triângulo amoroso e do elenco não conseguir acompanhar o drama exigido para os personagens, a condução de Rafael Ramos em desenrolar a trama prendia o espectador no filme. A esperança de um grupo talentoso e com novas ideias para o audiovisual do Amazonas pintava como algo animador. Justo pela expectativa criada, o resultado do novo curta do coletivo, “O Que Não Te Disse” frustra tanto.

Primeiro filme dirigido pelo ator e crítico do Cine Set, Diego Bauer, “O Que Não Te Disse” acompanha uma mulher (Jéssica Amorim) refletindo sobre o fim de um relacionamento amoroso. Questões sobre possíveis falhas e a dor pela ausência da pessoa amada passam pelo filme enquanto a protagonista enfrenta crises de stress e depressão.

Boas intenções não faltam ao curta como ousar em fazer um filme quase sem diálogos em que as ações e pensamentos da protagonista conduzem o espectador ao ambiente caótico ao qual ela se encontra e em não deixar tudo datado para o espectador. Bauer, porém, erra na dosagem dessas possibilidades em “O Que Não Te Disse”. Se o momento em que a personagem começa a maquiar o corpo todo com batom dura o tempo necessário para termos uma dimensão do abalado estado psicológico dela, o teatral plano-sequência interminável no varal apenas repete o mesmo contexto agora com pregadores de roupa. Já a saída de casa até o bar pouco acrescenta para a história e realça uma variedade incômoda da fotografia ora mais clara, ora mais escura próxima ao cinza como antes do ataque nervoso no quarto.

Maneirismo de interpretação à parte, a entrega física e psicológica absurda feita por Jéssica Amorim em transmitir as angústias daquela mulher elevam a qualidade de “O Que Não Te Disse”. Raro ver, mesmo em grandes produções, uma atriz se doar tanto para um personagem como feito pela amazonense. Pena que a inserção dos pensamentos não esteja à altura do visto na tela pela falta de sincronia entre o que a voz busca transmitir (muitas vezes, o áudio soa abafado em um problema técnico capaz de comprometer a compreensão) e a imagem mostra, provocando um distanciamento no envolvimento do público com o drama visto na tela.

Longe de ser um desastre absoluto, “O Que Não Te Disse” traz boas ideias com uma execução irregular. De qualquer maneira, a Artrupe Produções continua com créditos por oferecer propostas diferentes para o audiovisual do Amazonas. Quem sabe o terceiro filme não traga o acerto definitivo?

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