“O programa a seguir está sob responsabilidade de seus realizadores”. 

Não é de maneira gratuita que esse anúncio é inserido na televisão em diversos programas nas emissoras de Manaus e vários cantos do Brasil. Simplesmente é um aviso de que o canal, a partir dali, abre mão da responsabilidade do que será exibido a seguir.

O circo de horror está armado: sensacionalismo, exploração da miséria humana e reportagens de cunho político e moralidade duvidosa – tudo em nome da audiência. E um apresentador cheio de boa vontade e pronto pra atiçar a histeria coletiva. Não é de hoje que diversos apresentadores de televisão – principalmente aqui em Manaus – usam do alcance televiso para alçar voos mais ambiciosos como a política. O ápice disso veio com a eleição do futuro governador do Amazonas, Wilson Lima, a grande estrela do “Alô Amazonas”, programa policialesco do 12h da TV A Crítica, filiada da Record.

Exibida originalmente no Space e disponível na Netflix, “Pacto de Sangue” se inspira nesta realidade para acompanhar a história de Silas Campelo (Guilherme Fontes), um repórter ambicioso, mas, cansado de ser deixado de escanteio na emissora. Para crescer na carreira, o sujeito apela para reportagens polêmicas, sensacionistas e com altas doses de violência. Ao se dar conta de sua ascensão televisiva, ele resolve se lançar candidato a deputado (oi Wallace). Paralelo a isso, os investigadores Moreira (Ravel Cabral) e Soares (André Ramiro), estão na pista de um traficante de drogas e de pessoas, além do violento Trucco (Jonathan Haagensen) com Gringa (Mel Lisboa) como cúmplice.

É óbvio que as duas tramas se cruzam lá na frente, mas, fica claro no decorrer dos episódios que a história principal é a do apresentador Silas, mostrando, inclusive, o difícil relacionamento dele com a família e a cumplicidade com o irmão Edinho (Adriano Garib). Guilherme Fontes entende o personagem como ninguém ao mesclar os momentos de maior seriedade com outros completamente caricatos – a dissimulação de Silas é tanta que ele nem disfarça quando é flagrado maltratando um funcionário para, logo em seguida, fingir que nada aconteceu e até prometer uma promoção ao rapaz.

Por outro lado, tudo relativo aos investigadores é tratado de maneira superficial, além de cair no velho clichê do “buddy cop” – dois policiais que não se entendem e são obrigados a trabalhar juntos – com direito até a personalidades opostas. O mesmo acontece com o restante da família – esposa e filha – sendo apenas vítimas das ameaças dos inimigos de Silas ou servindo para trazer, ocasionalmente, traços de humanidade no protagonista.

A ideia de situar a história em Belém se mostrou acertada: o calor e a umidade paraense chegam a se tornar um coadjuvante fantasma, aumentando o desconforto dos personagens já em uma situação incômoda pelo o que a trama conta. Por outro lado, a tentativa do elenco em emular o sotaque local passa longe de convencer, podendo até tirar a concentração do espectador mais atento.

A objetificação da mulher é um problema recorrente visto na série. “Pacto de Sangue” não perde a oportunidade de mostrar nus frontais femininos, até mesmo quando não se faz necessário – de certa maneira, soando até uma apelação irônica. Para completar, Mel Lisboa encarnar uma personagem muito fraca para o talento dela e, em um certo momento, chega a soar inverossímil de tanta asneira proferida por ela.

No geral, “Pacto de Sangue” apresenta uma temporada até consistente com apenas oito episódios capazes de mostrar satisfatoriamente a evolução do protagonista sem sofrer desgaste. Mas, precisa melhorar alguns detalhes na próxima temporada, amadurecer suas tramas e fugir de fórmulas básicas do policial.