Na saída da sessão de “Jauja” na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, uma senhora vira para o bilheteiro e dispara: “Se fosse para ver algo parado, ficava olhando fotografia em casa”.
Apesar da crítica injusta, há de ser ter muita paciência com “Jauja”. Dirigido por Lisandro Alonso, o filme possui um ritmo lento para desenvolver a história de um pai (Viggo Mortensen) atrás da filha levada por um rebelde do exército no deserto da Patagônia em 1882. São planos e planos para mostrar a diversidade dos relevos da região e o caminho do protagonista em busca do vazio. A jornada realista desenvolvida em locações externas permite o belo trabalho de fotografia feita em 4:3.
Se o capricho na parte técnica chama atenção, a trama de “Jauja” depende da boa vontade do espectador em acompanhá-la. Viggo Mortensen consegue criar um sujeito sendo engolido pelo deserto na angústia pela perda da filha. O momento David Lynch coloca um toque de mundo fantástico e deixa em suspenso tudo o que foi trilhado até ali.
De qualquer maneira, o vencedor da Mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes 2014 vale a conferida pela beleza da experiência visual.
NOTA: 6,0
Sabe aquele arrependimento de tantas possibilidades e você escolher justo a pior de todas?
Foi isso que pensava ao assistir esta aventura infantil do cinema holandês. Para ser sincero, “Labyrinthus” não chega a ser um completo desastre, porém, está muito longe de ser uma produção capaz de valer o ingresso. A falta de empatia dos atores e a trama sem inovações com reviravoltas previsíveis comprometem a atenção do espectador com o filme.
Apesar de remeter ao universo de “Alice no País das Maravilhas” por diversas vezes, o visual colorido do filme chama a atenção e diminui o tédio com o que se vê na história a cada nova área descoberta pelos jogadores presos no game. Pena a inabilidade do diretor Douglas Boswell em comandar as sequências de ação com uma clara falta de noção espacial dos efeitos visuais, o que faz muitas cenas, por exemplo, perderem a verossimilhança pelos atores parecerem perto demais um do outro quando deveriam ficar distantes.
Pura perda de tempo.
NOTA: 5,5
John Wayne, Clint Eastwood, Charles Bronson, Bruce Willis, Vin Diesel…
O cinema já imortalizou muitos astros como símbolos da macheza e coragem para enfrentar os desafios do universo. Em “Força Maior”, entretanto, o homem se encontra do outro lado da moeda ao lidar com a impotência e o medo.
Tudo acontece depois de uma avalanche quase matar uma família e o pai sair correndo sem procurar saber dos filhos e da esposa. Momento marcante não só para os personagens como para o público, espectador uma cena tensa pela Ruben Ostlund posiciona a câmera dando maior destaque para a montanha como se prenunciasse o perigo iminente.
Desse momento em diante, “Força Maior” passa a ser um estudo de caso sobre a inversão das figuras predispostas na sociedade. Antes invencível, o homem revela sua fraqueza, cai em prantos e deixa de ser a figura central de força, sendo a mulher ocupante desse papel. Porém, as máscaras sociais ainda estão lá e precisam ser mantidas. Mas como fazer isso quando o cenário está insustentável?
O drama sueco traz duas ótimas atuações dos protagonistas vividos por Johannes Bah Kuhnke e Lisa Loven Kongsli e um roteiro repleto de bons diálogos. Filme essencial para a compreensão do mundo pós-moderno.
NOTA: 8,0
Suécia – Um Pombo Pousou no Galho Refletindo Sobre a Existência
Ganhar o Leão de Ouro do Festival de Veneza 2014 faz com que o público crie uma expectativa alta em torno deste filme sueco. Se a badalação não chega a fazer jus, pelo menos, “Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência” se mostra uma experiência irônica das mais interessantes deste ano.
Produção sueca lembra muito o humor da turma da ex-MTV, “Hermes e Renato”. Isso pelo fato de ser a caracterização responsável pelo humor do que necessariamente as esquetes elaboradas pelo diretor e roteirista Roy Andersson. Se no programa brasileiro o amadorismo era a verdadeira graça, aqui isso reside desde o andar e postura dos personagens como zumbis realçados por uma fotografia gélida até à maquiagem pálida. A composição balanceada dos planos com cada elemento de cena posicionado de maneira milimétrica traz uma rigidez capaz de criar uma comédia quase depressiva.
Situações surreais como a chegada das tropas do rei Charles XII após a derrota para a Rússia em uma mistura do tempo atual com o século XVIII e o sonho perturbador de um personagem trazem uma dimensão sobre o motivo para vermos os fantasmas vivos na tela. “Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência” pode não ser tão brilhante como a premiação sugere, mas, é um ótimo filme.
NOTA: 7,0
Jovem chega a um novo local, conhece o grupo dominante da região e se envolve com eles. Quando começa a se corromper de vez, se regenera ao conhece o amor em uma jovem prostituta e terá que enfrentar a sociedade para conseguir viver este romance. Somente por essa sinopse básica, “A Gangue” não seria capaz de causar o frisson provocado durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
O grande diferencial do projeto está na execução e ambientação do projeto. A excelência dos planos-sequências construídos em locações externas pelo diretor estreante em longas, Miroslav Slaboshpitsky, conduz o espectador a uma imersão imediata no filme. A chegada do protagonista à escola traz um exemplo de como cada momento foi planejado e coreografado a exaustão. O mérito se torna ainda maior por ser um trabalho feito sem diálogos a partir da linguagem de sinais e com atores iniciantes sem soar falso em momento algum.
Outro ponto chamativo se dá por conta da situação política instável da Ucrânia refletido diretamente no filme. O estado de violência, prostituição, delinquência juvenil e abandono do sistema educacional retrata um país em extrema crise social em que a gestão pública se mostra conivente com crimes, instituindo a lei do mais forte para a sobrevivência.
Assim como “Miss Violence” chocou a Mostra em 2013 ao ilustrar a desintegração da Grécia a partir do núcleo familiar, “A Gangue” relata uma Ucrânia sem leis e o futuro do país abandonado.
NOTA: 8,0