Parece mentira o ano de 2014 para o cinema mundial. Depois de Philip Seymour Hoffman, Eduardo Coutinho e José Wilker mais uma bomba atinge cinéfilos do mundo todo: a morte de Robin Williams aos 63 anos de idade. E a tragédia se faz ainda maior pelo que o ator representava de alegria e bom humor para o mundo do entretenimento.

Dono de personagens consagrados como Euphigenia Doubtfire de “Uma Babá Quase Perfeita” e o gênio da lâmpada de “Alladin”, Robin Williams era sinônimo de filmes para reunir as famílias nas salas de cinema e ao redor da televisão. O timing cômico e o carisma tornavam o ator um fenômeno de popularidade. Mas a qualidade dele ia além das comédias ao fazer filmes mais dramáticos como “Sociedade dos Poetas Mortos” e “Gênio Indomável”, obra pela qual ganhou o único Oscar da carreira em 1998.

Problemas com bebidas e drogas fizeram com que o ator entrasse em declínio neste século restando poucas participações em filmes como “Uma Noite no Museu”, “Happy Feet” e “O Mordomo da Casa Branca”. Triste o fim de um ator carismático como poucos nos dias atuais. O cinema e o público sentirá falta de Robin Williams.

Caio Pimenta

Filme Escolhido: Uma Babá Quase Perfeita

Se Robin Williams está marcado no inconsciente popular muito se deve a atuação em “Uma Babá Quase Perfeita”. Ao interpretar o pai que se veste de babá para poder ver os filhos após o término do casamento, o ator cria uma figura marcante pela energia e bom humor. Percebe-se na tela como o ator se diverte ao gravar cada sequência e isso transmite uma cumplicidade entre Doubtfire e o público.

Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator em Comédia/Musical, Williams consegue em “Uma Babá Quase Perfeita” algo que somente grandes atores são capazes: melhorar a qualidade de filmes regulares e torná-lo memoráveis.

Diego Bauer

Filme Escolhido: Gênio Indomável

Robin Williams era um comediante, mas curiosamente ganhou o maior reconhecimento da sua carreira em um drama, Gênio Indomável. Trabalhando como contraponto ao jovem arrogante, Will Hunting (Matt Damon), o seu papel era o de um psicólogo que tinha de conviver com a perda da sua esposa e orientar o seu problemático paciente.

Com um tom de voz sempre baixo, e com uma economia rara na sua carreira, Williams nos apresenta a um personagem amargurado pela morte do seu grande amor, num trabalho que se apresentou como a maior chance da carreira do ator para que ele mostrasse que era mais do que um bom comediante.

E Williams brilha neste filme, com destaque para o seu fantástico solilóquio a beira de uma lagoa, no qual rebate a arrogância do garoto. Um merecidíssimo Oscar.


Gabriel Oliveira
Filme Escolhido: Sociedade dos Poetas Mortos

Embora sua faceta de comediante tenha marcado sua carreira, foram suas incursões em papeis mais dramáticos que garantiram a Robin Williams seus momentos de maior reconhecimento. Sua segunda indicação ao Oscar foi um desses trabalhos merecidos que mostraram a versatilidade do ator, ao viver o papel do professor John Keating, que inspira uma turma de estudantes de um internato conservador no longa de Peter Weir, “Sociedade dos Poetas Mortos”.

Williams acerta ao encarnar uma figura que desafia convenções sociais e estimula a paixão pela poesia e pela arte em seus alunos. Ao mesmo tempo em que vive Keating com uma dose de simplicidade e inteligência que o tornam um personagem encantador, o ator sabe dar espaço aos nomes então bem jovens do elenco, como Ethan Hawke e Robert Sean Leonard, possibilitando que se estabeleça entre eles uma sintonia necessária para o filme. Comedida e eficiente, é essa performance que move todo o filme e crava o lema do “Carpe diem” nos próprios espectadores.

Renildo Rodrigues

Filme Escolhido: O Homem Bicentenário

Sempre defendo aqui que a marca da grandeza, num ator, não se mede por uma atuação arrasadora num filme idem, mas pela capacidade de elevar, e às vezes até salvar, material medíocre ou francamente ruim. Esse foi um trunfo que Robin Williams, um ator de enorme talento, mas um gosto duvidosíssimo, exerceu várias vezes ao longo da carreira. Frequentemente, a melhor, ou a única coisa boa em seus filmes, era ele. O oposto também acontece – sua mania de fazer personagens do tipo bobões e boa-praça criou vários personagens irritantes.

Mas é o talento do ator que prevalece em O Homem Bicentenário. Uma adaptação sentimental e insossa da história emocionante, de dimensões metafísicas, de Isaac Asimov, o filme só tem a favor a atuação contida e delicada de Williams, que vive o personagem-título, um robô que, ao longo das décadas, vai se humanizando a ponto de substituir circuitos por veias e mainframes por um coração mortal.

É esse legado, o do talento que redime, que eu espero que as pessoas lembrem primeiro ao pensar em Robin Williams, e não o do tiozão chatonildo dos filmes idem.

Susy Freitas

Filme Escolhido: A Gaiola das Loucas

Inspirado em “La cage aux folles” (1978), “Birdcage: a gaiola das loucas” (1996) é uma comédia que consegue ser divertida e leve ao mesmo tempo em que quebra estereótipos. Além disso, ela traz uma faceta de Robin Williams que sempre o engrandecia quando colocava em prática: segurar a onda quando o papel pedia.

Como o bissexual dono de boate Armand Goldman, ele tem momentos de exagero, como quando explica ao esposo Albert o que determinada performance exigia da drag, mas também sabe manter as aparências de heterossexual tradicional a pedido do filho. No que se conteve, Williams abriu caminho tanto para mostrar algo diferente do comediante insano com o qual nos acostumamos, mas também mostrou grande generosidade ao permitir que o parceiro de cena Nathan Lane brilhasse como a parte tresloucada do casal gay que protagoniza o filme.

Esperto, Williams teve a percepção de que no trabalho em equipe seria vantajoso criar uma figura discreta, porém adorável, para contrapor a drama Queen de Lane, mas quem ganhou mesmo foi o público.

OUTRAS ATUAÇÕES INESQUECÍVEIS DE ROBIN WILLIAMS

– Bom Dia, Vietnã (1987) – primeira indicação ao Oscar da carreira

– Alladin (1992) – dublagem marcante do Gênio da Lâmpada

– Jumanji (1995) – grande blockbuster da carreira do ator

– Insônia (2002) – suspense com Al Pacino para reinventar a carreira