O Amazonas terá representante em dois dos principais eventos de cinema do Brasil neste fim de ano: Sérgio Andrade leva o novo filme da carreira, “A Terra Negra dos Kawá”, para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (18 a 31 de outubro) e o Festival do Rio (1º a 11 de novembro). A produção marca o terceiro longa-metragem da carreira do cineasta – “A Floresta de Jonathas” e “Antes o Tempo Não Acabava” são os dois primeiros.

Misturando atores indígenas da mesma família – Severiano Kedassare, Emerlinda Yepario, e os filhos Kaya Sara e Anderson Kary-Bayá – com intérpretes reconhecidos nacionalmente – Mariana Lima, Marat Descartes e Felipe Rocha – “A Terra Negra dos Kawá” mostra a relação de um grupo indígena chamado Kawá com a terra preta existente na região e seus potenciais curativos, energéticos e até sobrenaturais. A chegada de três cientistas ao local muda o panorama da situação já que um deles (Marat Descartes) possui intenções de explorar a região economicamente.

Em entrevista ao Cine Set direto do Rio de Janeiro, Sérgio Andrade acredita que “A Terra Negra dos Kawá” seja seu trabalho mais leve. “Considero que seja um filme de esperança. “A Floresta de Jonathas” tinha uma certa tristeza, era denso assim como o “Antes o Tempo Não Acabava” que tocava em assuntos polêmicos. Já o novo projeto prega a união das pessoas ao falar de uma instância espiritual forte das questões ancestrais indígenas. Há este tom lúdico, esperançoso com humor, mas, ao mesmo tempo, político também, principalmente, na abordagem da demarcação das terras indígenas”, declarou.

“É um filme que desarma, humanista. “A Terra Negra dos Kawá” traz um Brasil onírico, de sonhos para um momento tão áspero. Meu objetivo era fazer uma produção lúdica e esperançosa”, destaca.

Para realizar o filme, Sérgio Andrade entrevistou cientistas do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para saber mais sobre a terra preta indígena. “Este tema sempre me fascinou pela forma como o povo local conseguiu fazer do solo tão fértil e poderoso”, disse. Aliado ao interesse que sempre teve na ficção científica, o diretor revelou que, a partir das conversas que teve com o amigo e parceiro de direção em “Antes o Tempo Não Acabava”, Fábio Baldo, a ideia para “A Terra Negra dos Kawá” começou a surgir.

Retorno às origens e o futuro para o audiovisual local

A oportunidade de fazer “A Terra Negra dos Kawá” também serviu para uma volta às origens, segundo Sérgio. Para tanto, além de rodar bastante na região metropolitana de Manaus, o diretor trabalhou com importantes nomes da cena local audiovisual como Flávia Abtibol e Keila Serruya, além de contar com a mesma equipe local de filmes como “A Floresta de Jonathas”. “Coloquei este desafio para mostrar como somos capazes”, disse. Segundo ele, o interesse pelo filme é grande tendo recebido propostas de curadores de festivais internacionais para exibições fora do Brasil.

O lançamento do terceiro longa da carreira não impede Sérgio de se preocupar com o futuro para o audiovisual no país, especialmente, para a Região Norte. Além do receio do que possa acontecer após a definição da eleição presidencial deste ano, o diretor amazonense considera que as mudanças nos critérios dos editais recentes da Agência Nacional do Cinema (Ancine) prejudicam a regionalização tão fundamental para o fortalecimento da cena em regiões sem tanta tradição no setor.

Por fim, Sérgio considera que é preciso haver maior convergência da classe do audiovisual amazonense: “A classe precisa criar oportunidades, ser mais unida. Temos uma cena ainda incipiente, o que faz necessária a troca de ideias constante. Precisamos nos livrar de alguns ranços como, por exemplo, os filmes de piada. É preciso observar mais o cinema de autor que está sendo feito fora desta linha comercial”, completou.

“A Terra Negra dos Kawá” ainda não tem previsão para chegar aos cinemas de Manaus.

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