A importância de Madonna para a música é indiscutível. A cantora tem no currículo 12 álbuns, 9 Grammys, mais de 300 milhões de discos vendidos e músicas que fazem parte da, digamos, cultura global. Fora isso, a artista sabe como poucos popularizar modas e criar polêmicas. A Rainha do Pop também causa controvérsia quando se arrisca no cinema.
De A Certain Sacrifice, filme de guerrilha que fez antes de ser famosa, às obras com o ex-marido Guy Ritchie, ela recebeu mais trolladas do que elogios. Agora, em W.E. – O Romance do Século, seu segundo trabalho como diretora, há mais munição para os convictos de que ela deveria se concentrar apenas na música.
No filme, acompanhamos duas histórias em paralelo. A nova-iorquina Wally Winthrop (Abbie Cornish) vive infeliz. Casada com um médico que vende uma imagem de sucesso e moral exemplares, mas que na intimidade se revela alcoólatra, infiel e covarde, ela idealiza, numa tentativa de escapismo da realidade, o relacionamento de Wallis Simpson (Andrea Riseborough) com o rei Edward VIII (James D`Arcy).
Isso porque o monarca abdicou o trono da Inglaterra em plena ascensão do Nazismo para se casar com a “americana divorciada” e, assim, viver um conto de fadas. No decorrer da história, Wally descobre que a vida do casal estava longe de ser um filme da Disney, principalmente para Wallis.
O maior trunfo de W.E. fica por conta do figurino. A reconstituição de época é competente. Além disso, ela vai além do elogio ao jeito inglês de ser, tão corriqueiro em Hollywood. Como Wallis admira muito Wally, a nova-iorquina passa a se vestir de vez em quando como as mulheres da segunda metade do século XX.
Com isso, as fronteiras entre o presente do filme e o passado idealizado pela contemporânea ficam borradas – de maneira orgânica e coerente com a proposta do filme.
A fotografia também tem pontos fortes. Madonna opta por closes e planos fechados nas expressões dos personagens, o que ressalta o tom intimista da história. Este é ressaltado com o desbotamento e o cinza predominantes.
A quebra de padrão que era uma americana divorciada no centro da monarquia britânica aparece sutilmente na fotografia, com o vermelho vivo do batom usado por Wallis.
Apesar de ter algumas qualidades técnicas, “W.E.” tem arestas consideráveis no roteiro e na direção.
Nenhum personagem tem carisma o suficiente. O médico constrange com sua canastrice. Wally sofre como uma protagonista de novela mexicana e precisaria ir imediatamente a um psiquiatra, porque as conversas com a sua heroína são um claro sintoma de esquizofrenia. Edward VIII se mostra uma presença nula. Wallis nos é apresentada como uma mulher sem beleza, mas com muita personalidade.
Por alguns milésimos, parecia que ela seria uma personagem à la Almodóvar. Enquanto sua falta de charme ficou clara, sua força foi engolida pela sua resignação às circunstâncias.
A coerência das ações do roteiro perde força com a evidente falta de timing narrativo. Por exemplo, você acha que o filme, felizmente, vai acabar. Mas surgem mais acontecimentos. Então, chega o que você considera o clímax. No fim das contas, era só o fechamento de uma ponta que você nem tinha mais interesse. Por isso, o sentimento de “tanto faz como tanto fez” ganha força à medida que as quase duas horas de projeção se aproximam do fim.
W.E. – O Romance do Século é um drama genérico de tamanho médio. Não conquista, mas pelo menos não ofende. Parece-me que, como Madonna revolucionou a indústria da música, as pessoas (e a própria) acham que ela conseguirá fazer o mesmo no cinema. A artista vem tentando isso há mais de trinta anos, mas até agora não conseguiu.
Nessa área, ao olharmos o todo, veremos que ela tem mais fracassos e críticas negativas no currículo. Se Madonna continuar desse jeito, a chance dela entrar para o lado da história do cinema que causa vergonha alheia é grande.
Até agora, essa combinação não tem se mostrado relevante.
“Uma quimera insana que ao mesmo tempo diz pouco, e não diz nada. Nada histórico, nada de glamour, nada sensível, nada de “romance” e nada “do século”.
http://www.beepbopboom.com.br/2012/03/we.html
A crítca é muito severa. O filme tem uma atmosfera bem engendrada, provocada pela ótima escolha da trilha sonora, figurino impecável e cenários belos. Da forma como se apresenta, mostra todo o carisma de uma mulher que não foi bela, mas soube manejar como ninguém os recursos de que dispunha a seu favor. Na minha opinião um ótmo filme que não deve nada a muitos outros que são frequentemente incensados pela crítica.