Com passagem pelo teatro local, Adanilo Reis iniciou os primeiros passos nos cinemas junto com a Artrupe Produções no curta-metragem “A Menina do Guarda-Chuva”. Pouco depois, ele retomou a dobradinha com Rafael Ramos e protagonizou “Aquela Estrada” e, em seguida, “O Tempo Passa”, de Diego Bauer. A participação na elogiada peça “Casa de Inverno” registrada em “Formas de Voltar Para Casa” acabou sendo o último trabalho dele junto com o grupo amazonense.

Ao iniciar uma nova vida no Rio de Janeiro, onde integra o grupo Teatro Galeroso, acabou rendendo um convite inesperado a este jovem ator vindo do bairro da Compensa: a participação em “Mariguella”, longa de estreia do consagrado ator Wagner Moura. Como se não bastasse a oportunidade de trabalhar com um dos maiores intérpretes do cinema nacional, Adanilo ainda teve a chance de contracenar com nomes como  Seu Jorge, Adriana Esteves e Humberto Carrão

O Cine SET conversou com Adanilo para saber como está sendo a experiência e o que podemos aguardar dele e do projeto.

Cine SETComo foi o processo de escalação para Marighella?

Adanilo Reis – Me chamaram pra fazer o teste aqui no Rio de Janeiro. Um tempo depois me convidaram à cidade de São Paulo, onde fiz uma oficina. Ao término dessa segunda fase, fiquei sabendo que faria o filme. Depois veio a preparação de elenco com a Fátima Toledo, os ensaios e as gravações, que acabaram fevereiro passado.

Cine SET – Qual a sensação de trabalhar com Wagner Moura, um ator conhecido nacionalmente, em seu primeiro trabalho como diretor?

Adanilo Reis – Sinto que Wagner tem uma enorme gana de vida, de sentir pulsar a vida, que pra mim ficou ainda mais evidente acompanhando o seu trabalho na direção. Essa força, que já vimos em suas atuações, também está presente ao dirigir… É como se fosse necessário se movimentar, mudar, propor novos caminhos, se rever.

Cine SET – Como ficou o clima do set diante da ameaça dele ser invadido por direitistas?

Adanilo Reis –  O mais importante de saber é que tinha muito mais gente do nosso lado. O que estamos fazendo é a visão de quem estava e está sendo esmagado, de quem apanhava e morria porque defendia uma causa. Uma causa do povo.

Por falar nisso, um salve aos nomes Marielle Franco e Anderson Gomes!

Cine SET – O que mais tem te chamado atenção neste processo de produção do filme?

Adanilo Reis –  Os esforços individuais e coletivos na realização de uma obra, e ainda mais no caso do “Marighella”. Me interessou muito o trabalho de toda equipe, todos alinhados e de um talento bonito de se ver. Quem estava fazendo o filme, queria estar fazendo aquilo, também porque achava necessário como discurso.

Admito que estive no set até quando não gravei, porque era sempre forte a experiência de assistir aos companheiros de cena, de ver acontecer a história do guerrilheiro Marighella.

Cine SET – Quais diferenças você sentiu entre esta produção e as que participou no Amazonas?

Adanilo Reis –  A semelhança é que tem gente incrível fazendo cinema em cada pedaço do Brasil. E nós temos artistas amazonenses incríveis! Talvez a escassez de recursos pro audiovisual do Amazonas seja um pouco diferente do que vejo em alguns casos aqui pelo sudeste, e isso pode interferir em estrutura técnica e mais de mão-de-obra especializada, por exemplo.

Outro ponto que acho importante é que muitas narrativas amazonenses foram pouco ou nada exploradas como linguagem cinematográfica. Até agora.

Cine SET – Como você se preparou para viver o personagem? Pode dar alguns detalhes sobre ele?

Adanilo Reis –  Detalhes não posso dar  (risos).

O que aconteceu a partir da década de 60, a ditadura militar, foi também reflexo de um Brasil estruturado na base da opressão.

Por isso, buscar conhecer mais profundamente a trajetória do país foi determinante para o meu trabalho no “Marighella”, que, por sinal, é uma história não contada ou destorcida, muitas vezes. Também, não é por acaso que muita gente nunca nem ouviu falar do Carlos Marighella ou da Clara Charf, do Ajuricaba ou das Icamiabas e de tantas outras figuras importantes pra gente.

E os filmes “A Batalha de Argel”, “Dia de Cão”, “Batismo de Sangue”, “Bom Comportamento” e livros como “Micróbrios na Cruz”, “Gracias a la Vida” e “Marighella: O Gurrilheiro que Incendiou o Mundo” (no qual o filme foi inspirado) foram alguns dos materiais que vi. Além das inspiradoras canções dos anos 60 de Caetano Veloso e Gal Costa.

Cine SET – Como está sendo participar de um projeto ao lado de atores como Adriana Esteves, Bruno Gagliasso, Luiz Carlos Vasconcellos?

Adanilo Reis –  Aprendizado. Total. Com o elenco todo foi assim, aprendi muito.

Cine SET – Como é a interação no set entre vocês?

Adanilo Reis –  Muita troca e companheirismo. E sangue nos olhos na hora de fazer.

Cine SET – Como você está se sentindo diante dessa nova fase na carreira?

Adanilo Reis –  Sendo bem sincero, me sinto bastante feliz com a possibilidade de fazer o “Marighella”. Por diversos fatores, profissionais e pessoais. E não sei o que é essa nova fase, mas me interessa muito continuar fazendo filmes e espetáculos que instiguem a mim e a quem assistir.

Cine SET – Quais suas expectativas em relação ao filme?

Adanilo Reis –  A julgar pelo que vi, acho que teremos um “Marighella” imprescindível, um filme que pega pelos braços, chacoalha e te acorda, tanto por conta do tema quanto pela linguagem. Não é segredo a ansiedade pelo lançamento.

Cine SET – Quais são seus planos após o término das filmagens?

Adanilo Reis –  Estou aguardando para saber as datas do próximo filme que vou fazer.

Em paralelo, sigo com o grupo Teatro Galeroso, em cartaz com o espetáculo BICHO DOIDO e em processo de montagem da peça CONSIDERADO; já no audiovisual, vou dirigir o videoclipe “Vai Tomar Na Cuia”, do Caboclã, uma banda de manauaras no Rio de Janeiro, estamos preparando alguns curtas sobre o estado do Amazonas e o longa-metragem “Compensa”, que conta a história do famoso bairro manauara.