Se a lógica em algum momento entrasse em cena durante o terceiro filme da série “Busca Implacável”, a produção não duraria nem 10 minutos. Para esse elemento não ser percebido durante a projeção, o diretor Olivier Megaton utiliza de todos os recursos técnicos possíveis para deixar o espectador sem a capacidade de pensar – não que haja muita vontade para tanto de quem paga para assistir o filme – e não sair indignado com os furos do roteiro. E a cara de pau é tão grande que o longa até chega a ser divertido.

“Busca Implacável 3” visa dois objetivos: 1) mostrar como o herói é gente como a gente e 2) ele terá um desafiante à altura sob a pele do consagrado Forest Whitaker. A primeira missão convence até a página 2: o protagonista faz cooper de manhã cedo, cozinha e sabe fazer café com leite, veste roupinha de tiozão para jogar golfe com os amigos e até sofre de hipoglicemia.

A presença de Liam Neeson – outrora ator respeitado por filmes importantes como “A Lista de Schindler” e “Kinsey” – tenta remeter ao começo da série “Duro de Matar” quando Bruce Willis poderia se passar por um cidadão comum e dar a ilusão de que o pobre coitado do espectador também seria capaz de realizar os mesmos feitos de derrotar vilões e salvar a humanidade. Toda essa construção, entretanto, se desfaz assim que começa a pancadaria em que ele se torna invencível a ponto de matar todos que surgem em seu caminho e escapar sem ferimentos de duas explosões.

Já Forest Whitaker tenta impor respeito muito mais pela próprio currículo com um Oscar na carreira por “O Último Rei da Escócia” do que propriamente pelo personagem. Os erros cometidos pelo chefe de polícia algoz do herói são tão primários que impressionam como o roteiro escrito por Luc Besson e Robert Mark Kamen realmente insiste neles. Por que não investigar e ouvir todos os envolvidos com a falecida? Com todo histórico dos outros filmes, por que não suspeita sobre vingança de criminosos? E o caso do sujeito morto na cena inicial?

A justificativa para tanto fica clara: ou você torna a situação plausível e o filme fica sem história ou inventa situações estapafúrdias confiando na eficiência das cenas de ação para enganar o público. Com isso, resta a Forest Whitaker fazer cara de intrigado ou mexer em um elástico como símbolo de ser um sujeito pensante e meticuloso.

Restam as cenas de ação e “Busca Implacável 3” realmente se sai bem nesse quesito. Apostando em uma série de cortes e com a câmera bem perto da ação sempre em constante movimento, o diretor Olivier Megaton cria boas sequências de perseguição e luta corporal. Diferente do estilo Michael Bay, há a preocupação de trazer planos mais abertos, ajudando o espectador a ter uma compreensão total do que acontece durante o combate sem ficar perdido. Na tentativa de iludir o público, a montagem cumpre função essencial ao conseguir dar a sensação de urgência, tantos são os cortes feitos até mesmo em cenas menos tensas como a ida de Liam Neeson ao necrotério.

Com a cena final mais safada dos últimos anos (desculpe o termo, mas aqui se aplica à perfeição tamanha a cara de pau de colocar o antagonista para falar sobre rosquinhas), “Busca Implacável 3” poderia ser mais um filme de ação genérico, porém, acaba divertindo por ser tão mal construído e não esconder isso para o espectador mais atento.

Um sacana honesto merece respeito.