Histórias de atores que entram em decadência mas conseguem se reinventar são um roteiro conhecido em Hollywood: Marlon Brando fez isso em O Poderoso Chefão, John Travolta em Pulp Fiction, Robert Downey Jr. com a série Homem de Ferro, e outros tantos. Em comum, todos podem se orgulhar de ter triunfado numa indústria que não admite desvios, preferindo a mediocridade produtiva ao gênio tumultuado.

Mas nada que se comparasse à Ressurreição McConaughey.

matthew-mcconaughney-1024Coroando uma trajetória extraordinária, o ano de 2014 marcou a consagração definitiva deste que pode ser considerado um dos três maiores atores em atividade no cinema americano (os outros dois são passíveis de discussão, mas McConaughey tem de estar no top 3).

Quem diria que o ator bonitão, que teve um começo promissor em filmes como Jovens, Loucos e Rebeldes (1993), Amistad (1997) e EDtv (1999), mas depois seguiu a previsível rota dos filmes água-com-açúcar, menor-denominador-comum, estaria hoje em tal companhia? Tirando aquela famosa edição da revista SET, que previa um futuro ilustre para o astro, provavelmente ninguém mais.

Mas acontece que o cara de filmes como Como Perder um Homem em 10 Dias, Armações do Amor, Minhas Adoráveis Ex-Namoradas e congêneres se deparou com a incômoda (e rara em Hollywood, por sinal) sensação de estar jogando uma carreira fora, de ver o sucesso e o prestígio conquistados no começo sendo diluídos em porcarias. O seu caminho para a volta não foi através do sucesso popular, como para Johnny Depp (Piratas do Caribe) e Downey Jr. Nem pela associação a algum nome cool da indústria, como Travolta, que deve toda a sua carreira pós-Fiction à reinvenção operada por Quentin Tarantino naquele filme. A vitória de Matthew McConaughey deve-se unicamente ao talento do artista, que, agora sabemos, é arrasador.

Basta listar os filmes com que o astro andou galgando os degraus do retorno: Cliente de Risco, Killer Joe – Matador de Aluguel (ambos de 2011), Amor Bandido, Magic Mike (2012), O Lobo de Wall Street e a premiação, no Oscar desse ano, por Clube de Compras Dallas (2013), além de um dos filmes mais marcantes de 2014, Interestelar. Quase todos grandes filmes, e, em quase todos, McConaughey é a melhor coisa deles.

O Oscar, portanto, foi só a cereja no bolo da mais aguerrida, surpreendente e triunfal volta por cima vista em Hollywood, um modelo a ser seguido por atores de talento comparável e estagnação similar na carreira (Clive Owen, John Cusack, Matt Damon), bem como por novatos em busca da melhor rota para o prestígio (Michael Fassbender, Benedict Cumberbatch). McConaughey foi tão exemplar que sua “volta” virou adjetivo. Agora, é Ressurreição McConaughey neles.

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