Quando cinco sujeitos precisaram escrever o roteiro definitivo da continuação de um filme esquecível é sinal de como as coisas andam mal em Hollywood. Na busca por uns milhõezinhos de dólares a mais, “Os Smurfs 2” abusa da simpatia das criaturas que dão título ao filme para conseguir fazer com que o espectador não durma durante 1h30 de uma trama tão interessante quanto o Globo Rural.

Para conseguir dominar o mundo (sim, o objetivo de sempre), Gargamel (Hank Azaria) tenta extrair a essência dos pequenos azuis usando Smurfette que prestes a completar aniversário entra em crise de identidade por ter nascido de uma receita mágica do vilão. Os dois acabam chegando em Paris e, para salvar a jovem, Papai Smurf e mais três companheiros contam com a ajuda da família de Patrick Winslow (Neil Patrick Harris).

Buscando ser o mais infantil possível, o longa não chega a ser criativo para criar situações realmente engraçadas e emocionantes. Para conseguir sucesso, o diretor Raja Gosnell (da série “Vovó…Zona”) opta por uma série de gags visuais baratas como o vilão sofrendo várias quedas, o gatinho engraçadinho, os Smurfs atirando doces em confeiteiros e frases ‘espertas’ de duplo sentido. Quando tenta fazer com que o público se emocione, dá uns closes nos personagens com carinhas de dó, a voz de sofrimento, uma trilha melosa e pronto.

Do pouco conteúdo que pode extrair, o roteiro desperdiça a possibilidade ao não explorar o conflito entre Patrick e o padrasto (o talentoso Brendan Gleeson), já que resume essa parte da trama a um fato esdrúxulo (o pai de família de 30 anos de idade chateado pela doação de um bicho de estimação da infância) ou dos seres criados por Gargamel, os quais mantém um elo afetivo com o vilão, apesar de serem maltratados a todo momento. A sensação é que não há intenção de explorar isso pela crença de ser apenas um filme para crianças, não sendo necessário tamanho zelo na história. Além disso, a equipe da Sony Animation sabe que grande parte do público vai cair na fofura dos carismáticos seres azuis, os quais servirão como uma espécie de camuflagem a qualquer tipo de falha da trama.

Já as cenas de ação são nada criativas e pouco empolgam o público, enquanto o 3D volta a ser uma baita enganação, servindo apenas para tirar uns tostões a mais de pobres pais. Para dizer que nem tudo é um desastre, porém, é necessário fazer um elogio ao trabalho de Hank Azaria. O ator aproveita o máximo que pode o papel de Gargamel para fazer uma atuação cheia de caretas e exagerada, divertindo o público com o jeito atrapalhado do vilão.

“Os Smurfs 2” traz uma proposta clara: levar as famílias ao cinema e entregar um produto simples e rasteiro com alta capacidade de gerar lucros, vindo das bilheterias inflacionadas pelas três dimensões e produtos licenciados. Deixar aberta sempre a possibilidade para uma continuação e fazer a máquina de lucros girar também faz parte da receita.

A partir daí, porém, é decisão do público: concorda com a situação mesmo que inconscientemente ou abre os olhos para os defeitos da obra e pensa duas vezes antes de pagar um ingresso para assistir a filmes caça-níqueis como esse?

Caso opte pela segunda opção, os antigos filmes da Disney, a maior parte da filmografia da Pixar, os clássicos de Hayao Miyazaki e belas obras como o excelente Ponte Para Terabítia são opções mais recompensadoras. Pena as bilheterias nacionais darem outros sinais…

NOTA: 5,5