Dos anos 90 pra cá, um nome se tornou referência para os apaixonados por cinema que tentavam se aventurar no universo da sétima arte, começando a escrever os seus primeiros roteiros, ou até mesmo aqueles que só queriam conhecer mais de técnica cinematográfica: Quentin Tarantino.

Livro de Paul A. Woods disseca a carreira de Quentin Tarantino, principalmente os seus primeiros anos, tornando-se uma leitura obrigatória para os fãs do diretor

Quem nunca ouviu o clichê de que o diretor era um compulsivo por cinema, que trabalhou como balconista de uma locadora, viu todos os filmes do acervo da loja, escreveu Cães de Aluguel e virou estrela de Hollywood?

Pois é, o livro de Woods vem, através de entrevistas, matérias, críticas e artigos, dissecar a vida do cineasta, conhecer os seus primeiros passos, bem antes da sua primeira aventura na direção, e mostrar que, apesar de alguns mitos sobre Tarantino terem o seu fundo de verdade, muita coisa que se imagina sobre Quentin não é exatamente verdade.

Como muita (ou nem tanta) gente sabe, Cães não é o seu primeiro roteiro. Aliás, não sei quem diz isso no livro, mas o diretor guardou pra si o seu melhor roteiro, dando as suas primeiras experiências para outros diretores comandarem.

Um Drink no Inferno, Amor à Queima-Roupa, e Assassinos por Natureza tem uma análise muito abrangente, com Tarantino falando sobre esses trabalhos, a importância que eles tiveram em sua carreira, e de que maneira ele observa o resultado de cada um como filme. Um parêntese bacana de se fazer é que Um Drink foi o primeiro roteiro escrito pelo diretor, dentre os três citados, mas o último a ser filmado. E que enquanto Quentin mostra respeito e admiração pelo filme de Tony Scott (a quem o cineasta dedica a sua carreira, pois ele foi o primeiro diretor a aceitar dirigir um roteiro de Tarantino, o que significou a primeira grande chance da sua carreira), dizendo que não o faria melhor, o mesmo não pode ser dito do filme de Oliver Stone, o qual não agrada nem um pouco a Tarantino, que afirma que teve o roteiro muito modificado, ficando apenas a sua ideia inicial sem ser modificada.

Se você gosta de Cães de Aluguel e Pulp Fiction, aqui tem um prato cheio. Os dois filmes são os que ocupam maior destaque no livro, com textos que dissecam as duas obras, que para muitos, ainda são as mais importantes na carreira do diretor. Em Cães o destaque maior fica para o fato de Tarantino ser um anônimo quando surgiu fazendo um estardalhaço no Festival de Toronto, causando curiosidade em um grande número de pessoas relacionadas ao cinema, que se questionavam, incrédulas, como que um desconhecido, com menos de trinta, chegava com um filme tão potente, e com tanta personalidade. Já em Pulp Fiction o tom é mais analítico, dissecando as opções feitas por Tarantino neste épico grandioso em muitos aspectos, ressaltando a escolha do elenco, e o que influenciou o diretor na hora de escrever o seu roteiro mais famoso.

Depois as obras dissecadas são Jackie Brown e Kill Bill, e o bacana é ver como dois filmes tão diferentes saíram da cabeça do mesmo diretor, e notar o que influenciou cada obra. Em Jackie, o diretor mostra respeito pela obra de Elmore Leonard, que influencia no ritmo mais cadenciado e solene deste longa, que é o único filme do diretor em que ele adaptou uma obra literária. Já em Bill temos a oportunidade de acompanhar a loucura que é a cabeça do diretor, e nos impressionarmos com o seu conhecimento enciclopédico sobre cinema, visto que aqui ele cita muitos dos filmes que o influenciaram a realizar este filme. E o interessante é que não se tratam de questões mais gerais, fica claro que, em casos mais específicos, tratam-se de coisas pequenas, muitas vezes um movimento de câmera, um plano detalhe, uma trilha, cada uma dessas coisas é resultado de uma referência diferente, o que faz com que este filme tenha pequenos pedaços de muitos filmes.

Paralelamente a isso, vemos depoimentos do diretor falando sobre a sua vida profissional e pessoal, e de que maneira a fama e o sucesso influenciaram (ou não) a sua vida e os seus hábitos. Tratam-se de relatos extremamente interessantes sobre a opinião de Tarantino sobre diversas coisas, não apenas relacionadas a cinema, claro, desenhando assim um retrato mais abrangente sobre o cineasta, o que acaba justificando muitas das escolhas estéticas e narrativas que vemos nos seus filmes.

É uma pena que trabalhos como À Prova de Morte e Bastardos Inglórios tenham análises tão reduzidas, sendo observados de maneira tão superficial, se comparados com os filmes anteriores. Trata-se de uma falha que incomoda, pois os dois são filmes importantes na carreira de Tarantino, representam experimentações do diretor em gêneros diferentes, e certamente mereciam análise mais rebuscada.

E não há referência à Django Livre, pois o lançamento do livro veio antes do filme.

Mesmo assim, quem é fã do diretor, quem gosta do seu trabalho, ou quem quer saber mais sobre os bastidores do mundo do cinema, tem um prato cheio nas mãos com este livro, que além de ser importante, é uma leitura muito agradável.

livro-quentin-tarantino-paul-a-woods-18825-MLB20161841579_092014-FQuentin Tarantino

Autor: Paul A. Woods

Editora: Leya

Páginas: 382