1. MILHARES SEM CINEMA PRÓXIMO A ELAS 

O fim das oito salas do Cinemark no Studio 5 deixa milhares de pessoas sem um cinema perto delas, cenário diferente do que ocorrera com o fechamento do Playarte do Manauara Shopping, onde outros shoppings – Amazonas, Millenium e Plaza – conseguiam atender esta demanda sem maiores dificuldades para a rota dos moradores da região. Quem vive no Distrito Industrial, Japiim, Betânia e Cachoeirinha, por exemplo, somente terá como opções menos distantes (me recuso a usar ‘mais próxima’) o Centerplex do Shopping Grande Circular ou o Amazonas Shopping, na Djalma Batista. Isso, claro, para quem estiver disposto a passar um bom tempo no trânsito maravilhoso de Manaus, seja gastando a gasolina de R$ 6,59 o litro ou nos confortáveis ônibus ou se conseguir um Uber que não cancela. Certamente um público perdido e que dificilmente voltará às salas.  

2. SAI CINEMARK, ENTRA DB? 

Caso o fechamento do Cinemark ou do Playarte fosse para a abertura de uma galeria de arte ou um espaço cultural voltado para os artistas locais se apresentarem, ficaria calado e nem acharia uma má ideia. Mas, claro, que não será o caso: o Studio 5 já anunciou que o espaço do cinema será utilizado por uma loja varejista, enquanto o Manauara Shopping segue com o local do antigo Playarte fechado sem dizer absolutamente nada para clientes e imprensa de quais são os planos para a área ou se haverá um novo cinema ou não. Com isso, perdem-se espaços artísticos, culturais, de entretenimento coletivo para virarem ou um supermercado (nada contra, mas, há centenas de outros lugares onde poderiam ser abrigados na cidade) ou um grande vazio. 

3. SANTA INGENUIDADE 

A reação a certas notícias mostra como o otimismo não morre. Ou será apenas ingenuidade ou simples desconhecimento? Quando o Playarte acabou, teve quem comemorasse porque seria a oportunidade de mudar a empresa a operar no Manauara Shopping. Afinal, a rede brasileira era criticada (com razão) pela falta de modernização e o cheiro de mofo das salas. Muitos pediram Cinépolis e, claro, o Cinemark que enfrentava a decadência do Studio 5. O fechamento do complexo da rede americana animou de vez esta turma. Tomara mesmo, muito mesmo que eu esteja completamente equivocado, mas, as chances disso acontecer são mínimas, afinal, envolvem desde um investimento alto em um período de completa incerteza no setor, no país e no mundo até todo o processo de negociação dos equipamentos e do próprio espaço. O fim dos complexos representa apenas o fim destes cinemas e ponto. Sem mais nem menos. São 18 salas de cinema perdidas e é isso aí. Sorry, mas, é a realidade.     

4. ESPERE POR MAIS 

Se a saída do Playarte chocou por estar localizado em um dos shoppings centers mais frequentados de Manaus, o fechamento do Cinemark surpreende por ocorrer um mês depois do fenômeno “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa”. Evidente que decisões como estas não ocorrem do dia para a noite, porém, o tão aguardado grande filme, capaz de trazer as pessoas para as salas de volta após um difícil primeiro semestre de 2021, passou longe de ser suficiente para uma rede multinacional manter suas operações em funcionamento, mesmo em um local onde está há 20 anos. Mais do que as mudanças nos costumes provocadas pelo streaming, os custos de manutenção das operações – luz, aluguel dos espaços nos shoppings, equipe – foram os principais fatores para o fim das atividades das duas redes (o breve comunicado do Manauara sobre o fim do Playarte deu a pista – veja aqui). E isso se agrava com a inflação em alta, o impedimento de que a ocupação das salas seja superior a 50% e a queda de arrecadação das bombonieres por conta dos temores da pandemia. Se isso acontece com um Cinemark, me questiono sobre um complexo menos tradicional como Centerplex no Shopping Grande Circular, e até mesmo o Cinépolis do Ponta Negra, onde 3 de 10 salas seguem sem funcionar, incluindo a maior de todas, a Macro XE. 

5. CIDADE EM AGONIA 

Mais do que qualquer outro setor artístico, o cinema está intrinsicamente ligado ao ambiente urbano desde as primeiras imagens em movimentos registradas pelos irmãos Lumières até às projeções das mesmas. Arrisco dizer que tenha sido o que de melhor a burguesia industrial das grandes cidades proporcionou em meio a seus nefastos legados. Não à toa o fechamento de cinemas (especialmente de rua) deixe uma sensação de decadência deste espaço urbano, sentimento preciso do que é viver nesta Manaus moribunda pós-14 de janeiro de 2021. As saídas dos complexos do Cinemark e Playarte, entretanto, não estão sozinhos neste agonizante cenário e se somam a ótimos restaurantes, cafés fechados desde o início da pandemia, além de espaços culturais lutando a todo custo para sobreviver diante das sabotagens do Governo Federal e à inércia das gestões municipais e estaduais. Sairemos (?) da pandemia diante de uma cidade ainda mais empobrecida em todos os sentidos e sem perspectivas de melhora a curto e médio prazo.