“A Colônia” é um filme que mistura documentário e ficção para compor uma narrativa que se debruça sobre o bairro Antônio Justa em Maracanaú, interior do Ceará. O bairro surge a partir de uma antiga colônia criada para manter em isolamento pacientes com hanseníase.

O filme inicia com imagens de arquivo da antiga colônia, inaugurada em 1942, junto a um off também da época, explicando as subdivisões e regras do local. Temos a impressão de estarmos entrando em um filme-denúncia, resgatando a memória daqueles que foram excluídos do convívio com a sociedade ao serem mandados para o local. E, de certa forma, é o que o filme tenta fazer, mas sem sucesso.

O longa foca principalmente no atual estado do local, que deixou de ser um lugar dedicado apenas aos enfermos e abriga agora inúmeras pessoas, incluindo novas gerações das famílias que se formaram entre os antigos pacientes. Acompanhamos o dia a dia de uma enfermeira que atende na pequena parte ainda dedicada ao tratamento de hanseníase, um homem filho de uma antiga paciente que acabou nunca saindo do local e uma nova moradora procurando uma casa para alugar.

 ESFORÇO SEM SUCESSO DE SER MAIS QUE UM DOCUMENTÁRIO

A escolha dos diretores Mozart Freire & Virginia Pinho é alternar entre cenas dramatizadas pelos próprios moradores enquanto também produzem entrevistas para a composição do filme. O recurso resulta em uma abordagem artificial tanto do lugar quanto dos personagens. As situações propostas soam tão ensaiadas que dificilmente entregam alguma emoção ao serem apresentadas.

Essa dramatização acaba por tirar força também das entrevistas, que poderiam funcionar como ponto alto de “A Colônia”, mas caem em um didatismo que arrasta a projeção. Elas são mal distribuídas durante a obra e quando podem crescer são cortadas para mais uma cena ficcional.

O esforço para abarcar vários desdobramentos da antiga colônia também atrapalha o roteiro. O comentário sobre a especulação imobiliária, por exemplo, é tão superficial que em momento nenhum acreditamos que a personagem possa realmente ficar com a casa que está sendo oferecida, já que a conclusão óbvia para fazer a crítica social é ela não alugar uma casa em um condomínio chique. 

Há um esforço grande para fazer de “A colônia” mais do que um documentário. É preciso que o filme tome consciência de si, que percebamos que existem diretores por trás da obra, algo impossível, dentro da lógica dos realizadores, apenas entrevistando os moradores ou os observando em sua rotina.

O resultado é uma obra que nunca chega perto do objeto que estuda, mesmo que se cerque dele. É um filme que se recusa a ser de seus protagonistas para poder forjá-los, perdendo a oportunidade de descobri-los.

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