Selecionado para a Mostra Panorama, “Uma Escola no Marajó” começa com uma viagem de barco pela ilha do título do filme, no interior do Pará. A embarcação é uma condução que leva as crianças que vivem em casas mais isoladas para a escola. O sol ainda não nasceu completamente, a câmera balança no movimento da água e, aos poucos, o veículo vai enchendo de alunos. São as crianças, como coletivo, as protagonistas desse documentário que acompanha um dia na rotina da Escola Sítio Porto Alegre.

A escolha da diretora Camila Kzan e da diretora de fotografia Giovanna Pezzo é colocar a câmera como uma observadora da situação. Não há apresentação formal dos personagens do filme e nem mesmo uma localização precisa de onde estamos. Entendemos com o passar dos minutos quais as particularidades daquele território, em meio às aulas, problemas administrativos e brincadeiras das crianças.

Esse ritmo mais cadenciado nos transfere enquanto espectadores para esse lugar de descoberta em relação ao que acontece em tela, e assim, compartilhamos juntos aos pequenos alunos a sensação de aprendizagem.

TRILHANDO CAMINHOS SEGUROS

Quando decide abordar o problema da falta de combustível para o barco condução, “Uma Escola no Marajó” isola os adultos responsáveis das crianças e ganha uma inesperada trama paralela. A montagem alterna entre os momentos descontraídos das aulas, com as apreensões e negociações da diretora para tentar resolver o problema. Embora esteja sempre conversando com alguém, a mulher parece isolada daquele universo, sempre tensa, espremida no canto da tela.

Há uma falta de profundidade sobre o assunto levantado, a ausência de apoio do poder público para com a escola. O interesse da obra pelas relações e vivências de alunos e funcionários consegue conduzir a narrativa, além do fato de ser compreensível para um curta-metragem não expandir suas abordagens devido ao tempo.

Entretanto, ao passo que temos um filme que caminha por lugares seguros, ancorando-se na universalidade da infância, e explorando bem o carisma dos alunos da pequena escola, também há a dificuldade para sentirmos “Uma escola no Marajó” como uma experiência única, excepcional. Cumpre-se o objetivo e o dia chega ao fim. Passamos uma tarde como qualquer outra, em uma escola como qualquer outra, no Marajó.