Não está fácil a vida de Rodrigo: músico sem grande sucesso, ele não aceita a separação da esposa ocorrida há dois anos (sim, 2 anos!) muito menos o novo relacionamento dela, além de sofrer com a distância do filho e de ver o trio morar na casa que precisou deixar. E para quem já está na pior, por que não se afundar ainda mais? É justamente isso que somos testemunhas durante “A Taça Quebrada”, instigante filme de estreia do chileno Esteban Cabezas.

No caso do patético protagonista, afundar-se significa chegar de madrugada na frente da residência, esperar o “rival” sair para trabalhar de manhã e usar como desculpa levar o filho para a escola para se instalar na casa. Sim, se instalar na casa, afinal, Rodrigo passa o dia lá ao ponto de tomar banho, usa a camisa do namorado da esposa e até dorme na cama do casal após tentar sem êxito se masturbar.

PRISÃO DOMICILIAR

O roteiro de Joaquín Sebastián Fernández Lieste está permeado de situações desconfortáveis e Esteban Cabezas demonstra habilidade suficiente para aproveitar isso imageticamente. Durante grande parte das cenas de “A Taça Quebrada” ambientadas dentro da casa, o diretor de fotografia Cristián Petit-Laurent opta por planos fixos, levando o público a ficar preso àquele enquadramento enquanto outras ações e reações acontecem ao redor naquele mesmo momento.

Se tal decisão se mostra simbólica da imobilidade daquele cenário para lá de angustiante gerado pelo protagonista com auge na constrangedora discussão de Rodrigo com o casal, as alterações na proporção de aspecto da imagem, à la “Mommy”, de Xavier Dolan, para mostrar o aprisionamento daqueles personagens soa mais como uma experimentação gratuita de um diretor estreante sem qualquer acréscimo para a história que conta.

Curioso como “A Taça Quebrada” não chega a minimizar os atos de Rodrigo ao deixar claro seu estado patético na cena deliciosa da conversa dele com um amigo, nosso representante do lado de lá, além de mostrar claramente como suas ações provocam danos a todos a seu redor Méritos de Juan Pablo Miranda com uma atuação excelente. Por outro lado, é inevitável pensar como seria a história vista sob o prisma feminino com uma diretora, roteirista e protagonista mulheres, afinal, a esposa vivida por María Jesús González (também ótima) acaba por ser a vítima maior daquele contexto terrível.

De qualquer modo, esta mistura de “Funny Games” com “Parasita” pode até passar longe do brilhantismo destes dois filmes, mas, consegue ser envolvente como ambos a partir de uma história claustrofóbica e com um protagonista incapaz de seguir em frente.

‘Duna – Parte 2’: Denis Villeneuve, enfim, acerta no tom épico

Abro esta crítica para assumir, que diferente da grande maioria do público e da crítica, não sou fã de carteirinha da primeira parte de “Duna”. Uma das minhas maiores críticas a Denis Villeneuve em relação a adaptação cinematográfica do clássico romance de Frank...

‘To Kill a Tiger’: a sobrevivência das vítimas do patriarcado

“Às vezes a vida te obriga a matar um tigre”.  De forma geral, “To Kill a Tiger” é uma história dolorosa com imagens poeticamente interessantes. Um olhar mais aprofundado, no entanto, mostra que se trata do relato de busca de justiça e amor de um pai para com uma...

‘O Homem dos Sonhos’: criativa sátira sobre fenômenos midiáticos

Quando li esse título a primeira vez, pensei que deveria se tratar de mais uma história patriarcal romântica e eu não poderia estar mais enganada. Dirigido por Kristoffer Borgli e protagonizado por Nicolas Cage, “O Homem dos Sonhos” aborda de forma discreta o fenômeno...

Como ‘Madame Teia’ consegue ser um fiasco completo?

Se os filmes de heróis da Marvel vêm passando por um período de ócio criativo, indicando uma possível saturação do público em relação às histórias, a Sony tem utilizado os “pseudos projetos cinematográficos” do universo baseado em propriedades do Homem-Aranha para...

‘Bob Marley: One Love’: a vulnerabilidade de uma lenda

Acredito que qualquer pessoa no planeta Terra sabe quem é Bob Marley ou já escutou alguma vez as suas canções. Se duvidar, até mesmo um alienígena de passagem por aqui já se desembestou a cantarolar um dos sucessos do cantor jamaicano, símbolo do reggae, subgênero...

‘Ferrari’: Michael Mann contido em drama sobre herói fora de seu tempo

Coisa estranha: a silhueta de um homem grisalho, a linha do cabelo recuando, adorna um balde de pipoca. É Adam Driver como Enzo Ferrari, em uma ação de marketing curiosa: vender o novo filme de Michael Mann como um grande blockbuster para a garotada. Jogada inusitada,...

‘Garra de Ferro’: um drama que não sai do quase

Garra de Ferro, o novo filme do diretor Sean Durkin, o mesmo dos bons Martha Marcy May Marlene (2011) e O Refúgio (2020), é decepcionante. Mas tinha ingredientes para ser marcante: um ótimo elenco e a base de uma história real e bastante dramática. No fim das contas,...

‘A Memória Infinita’: quando o amor é maior que o esquecimento

“Estou aqui para relembrar quem foi Augusto Góngora”  Com essas palavras e uma câmera desfocada, Paulina Urrutia, ex-ministra da cultura do Chile e companheira de Gongora a quase 25 anos, nos introduz a “A Memória Infinita”, filme dirigido por Maitê Alberdi, indicado...

‘Argylle’: Matthew Vaughn ladeira abaixo em filme fraco

Entre 2007 a 2015, Matthew Vaughn surgiu como uma das mentes criativas do entretenimento norte-americano. Neste período, ele comandou as melhores sátiras subversivas ao trabalhar os elementos de fantasia a partir da violência cartunesca com o humor politicamente...

‘Todos Menos Você’: dois gostosos e a essência da comédia romântica

As comédias românticas migraram dos cinemas para os streamings nos últimos anos. Basta lembrar que “Podres de Rico”, de 2018, foi o último filme do gênero a alcançar bilheteria e repercussão significativas nas telonas. Por isso, a ótima repercussão de “Todos Menos...